

Pedro Cruz
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O estranho caso do NRP Mondego
Se o Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA) acha mesmo que há uma conspiração política contra si, por ser um putativo candidato à Presidência da República, não o deveria ter dito. Ou, uma vez verbalizada a teoria, tinha a obrigação de completar a frase. Uma conspiração pensada por quem, de que ala, de dentro ou de fora da Marinha, de que partido, de que grupo. De onde.

O país do assim-assim, cá se vai indo, nunca pior
Regresso, ainda, à entrevista do Presidente da República - ou terá sido do analista e comentador Marcelo Rebelo de Sousa? - a propósito dos seus sete anos em Belém. De entre as várias frases duras e diretas, ditas ao Governo e à oposição, o entrevistado - talvez, no final, chegue a alguma conclusão sobre quem esteve, afinal, naquela cadeira - esclarece, de forma analítica, a diferença entre uma "maioria aritmética" e uma "maioria política". Considera que, nesta altura, dizem as sondagens, há uma maioria "aritmética" de direita, mas essa mesma direita não foi ainda capaz de gerar uma "maioria política" correspondente. Muito por culpa do partido "liderante do hemisfério", no caso, o PSD. Marcelo entende que só quando existir uma "grande distância" entre o maior partido da direita e os restantes, pode começar a falar-se em "maioria política". Ou seja, o PSD terá de estar mais forte e mais robusto, nas sondagens, deixar o Chega e a IL mais longe, ser claramente a força dominante. Tal como aconteceu no outro "hemisfério" com o PS e as condições que levaram à formação da geringonça.

Como Marcelo matou o Governo em trinta segundos
A entrevista do Presidente da República acabou logo na primeira frase. "Esta é uma maioria requentada e cansada". Marcelo, não satisfeito com a formulação que tinha pensado, acrescentou: "como a segunda maioria de Cavaco Silva". Um minuto depois de ter começado, a entrevista que marcava os sete anos de Marcelo em Belém estava acabada. Marcelo já não confia neste governo, não leva a sério esta maioria e não lhe augura nada de bom.

Save the date
Tomem nota. Marcelo Rebelo de Sousa, o analista político mais sagaz, informado e criador de factos políticos, o enfant terrible da análise política, o antecipador de cenários, possibilidades e eventos que só terão lugar no futuro, deixou claro, a semana passada, que o dia em que Passos Coelho falou sobre o seu futuro "pessoal e político" é digno de uma entrada na agenda. Tomem nota, disse Marcelo, no Grémio, onde foi enquanto Presidente da República, mas onde não conseguiu deixar à porta a inquietação própria do comentador irrequieto.

Caldeirada de Lula
Inabilidade e arrogância são, cada uma por si, más conselheiras. Quando se juntam numa mesma decisão ou declaração, o resultado nunca pode ser bom. Foi mais ou menos isto que aconteceu ao Ministro dos Negócios Estrangeiros, numa infeliz, estranha e extemporânea declaração, em Brasília, quando anunciou que Lula da Silva, o presidente do país-irmão, discursaria no parlamento a 25 de Abril, dia da sessão solene do aniversário da revolução dos cravos.

O jogo das cadeiras
Se, como se prevê, António Costa não for já o líder do PS quando houver as próximas eleições legislativas, teremos um fenómeno muito raro, senão único, na política portuguesa.

Relatório Minoritário
A comissão independente para a investigação dos abusos sexuais da Igreja Católica apurou 512 casos. Os mesmos especialistas e independentes, por extrapolação, acreditam que, por defeito, haverá, pelo menos, através dos testemunhos diretos e indiretos e da quantidade de pessoas nomeadas pelos autores dos 512 relatos validados, cerca de cinco mil abusados. Atrevo-me a extrapolar ainda mais e a acrescentar que serão, seguramente, mais de 50 mil. O trabalho da comissão vai "apenas" desde os anos 50 do século passado até aos dias de hoje. O relatório, ontem apresentado, com detalhe, minúcia e meridiana clareza, escancara uma porta que nunca antes tinha sido, sequer, entreaberta.

O pastor fugitivo
Andava o rebanho à solta, no Linhó, em Sintra. As cabras, habituadas ao pastor, pastoreavam em liberdade, apenas condicionada pelas cercas que as impedem de ir provar outros pastos, conhecer outros mundos, viajar para outros lugares fora daquele espaço. No fundo, o rebanho está numa espécie de prisão domiciliária. Ou, numa outra versão, em regime aberto. Durante o dia, vagueiam pelas pastagens. À noite, recolhem ao abrigo onde ficam até novo nascer do sol.
