Pedro Cruz

Pedro Cruz

Com IVA zero e brócolos se enganam os tolos

Nos últimos meses, nas últimas semanas, o IVA zero no cabaz de alimentos considerados essenciais era um erro. O modelo já tinha sido experimentado em Espanha e, dizia o Governo, sem resultados práticos para quem compra. Não seria através da descida do imposto que o consumidor - eu prefiro dizer cidadão - notaria a diferença na fatura. E, à boleia desta constatação, já testada mesmo aqui ao lado, o Governo entendia que não deveria abdicar da receita do IVA gerada pela venda dos alimentos essenciais. Com a política das "contas certas", de números mágicos nas Finanças, indicadores económicos sempre a subir e uma arrecadação de impostos verdadeiramente extraordinária, baixar o IVA, ainda por cima sem garantias de sucesso, soava a disparate.

Pedro Cruz

O país do assim-assim, cá se vai indo, nunca pior

Regresso, ainda, à entrevista do Presidente da República - ou terá sido do analista e comentador Marcelo Rebelo de Sousa? - a propósito dos seus sete anos em Belém. De entre as várias frases duras e diretas, ditas ao Governo e à oposição, o entrevistado - talvez, no final, chegue a alguma conclusão sobre quem esteve, afinal, naquela cadeira - esclarece, de forma analítica, a diferença entre uma "maioria aritmética" e uma "maioria política". Considera que, nesta altura, dizem as sondagens, há uma maioria "aritmética" de direita, mas essa mesma direita não foi ainda capaz de gerar uma "maioria política" correspondente. Muito por culpa do partido "liderante do hemisfério", no caso, o PSD. Marcelo entende que só quando existir uma "grande distância" entre o maior partido da direita e os restantes, pode começar a falar-se em "maioria política". Ou seja, o PSD terá de estar mais forte e mais robusto, nas sondagens, deixar o Chega e a IL mais longe, ser claramente a força dominante. Tal como aconteceu no outro "hemisfério" com o PS e as condições que levaram à formação da geringonça.

Pedro Cruz

Save the date

Tomem nota. Marcelo Rebelo de Sousa, o analista político mais sagaz, informado e criador de factos políticos, o enfant terrible da análise política, o antecipador de cenários, possibilidades e eventos que só terão lugar no futuro, deixou claro, a semana passada, que o dia em que Passos Coelho falou sobre o seu futuro "pessoal e político" é digno de uma entrada na agenda. Tomem nota, disse Marcelo, no Grémio, onde foi enquanto Presidente da República, mas onde não conseguiu deixar à porta a inquietação própria do comentador irrequieto.

Pedro Cruz

Relatório Minoritário

A comissão independente para a investigação dos abusos sexuais da Igreja Católica apurou 512 casos. Os mesmos especialistas e independentes, por extrapolação, acreditam que, por defeito, haverá, pelo menos, através dos testemunhos diretos e indiretos e da quantidade de pessoas nomeadas pelos autores dos 512 relatos validados, cerca de cinco mil abusados. Atrevo-me a extrapolar ainda mais e a acrescentar que serão, seguramente, mais de 50 mil. O trabalho da comissão vai "apenas" desde os anos 50 do século passado até aos dias de hoje. O relatório, ontem apresentado, com detalhe, minúcia e meridiana clareza, escancara uma porta que nunca antes tinha sido, sequer, entreaberta.

Pedro Cruz

A luta continua, mas a greve não é minha, é tua

As greves na educação a que temos assistido ao longo dos últimos meses e que, agora, ameaçam continuar por mais uns quantos, até ao fim do ano letivo, não são já, apenas e só, manifestações legítimas de protesto por melhores condições de trabalho, progressões na carreira, revisão dos métodos de colocação dos docentes e, em geral, "respeito" pela profissão.
Transformaram-se, ao mesmo tempo, num confronto violento entre as velhas e conservadoras centrais sindicais e os novos, pequenos e independentes sindicatos.