A atleta olímpica Liliana Cá competiu nos Jogos Olímpicos de Tóquio e ficou em quinto lugar no lançamento do disco. O presidente do clube de Liliana, a Associação Desportiva Novas Luzes, mostra-se orgulhoso da prestação da atleta nas olimpiadas. É "missão cumprida".
É na Bobadela que fica a sede do clube desportivo amador que representa Liliana Cá. A Associação Desportiva Novas Luzes fica mais precisamente na Clínica Novas Luzes, onde trabalha o médico e fundador da associação desportiva Novas Luzes, José Custódio.
José criou o clube desportivo em 2014 por ter interesse em desporto e querer ajudar os atletas a crescer e, quem sabe, chegar à alta competição.
Atualmente, o Novas Luzes tem cerca de uma dezena de atletas. Por causa das dificuldades financeiras que a pandemia provocou, o clube teve de abdicar de vários atletas e ficou apenas com os melhores.
Sentado na cadeira do seu gabinete clínico, ao lado de um modelo da espinha dorsal, o presidente do clube conta que a relação com a atleta do lançamento do disco nasceu há cinco anos e que tudo começou à mesa. "Em 2016, conheci a Liliana Cá, apresentada pelo Herédio Costa, que é o seu atual treinador e que marcou um almoço. Almoço esse em que combinámos que ela iria para o Novas Luzes, que lhe iria dar todo o apoio com o objetivo de ela conseguir os melhores resultados. Claro que não pensámos em Jogos Olímpicos, mas pensámos que ela poderia ser um primeiro plano a nível nacional. Nesse primeiro ano, via-se que ela se esforçava para atingir marcas. E atingiu: ao fim deste primeiro ano [2017], já era a segunda melhor atleta nacional do lançamento do disco - só atrás da Irina Rodrigues."
"Um talento com uma grande margem de progressão"
Nesse almoço, ficou combinado que os subsídios dados pelo clube iam aumentando conforme os resultados da atleta. Vinda de uma pausa de três anos, Liliana volta à prática do desporto e inicia um percurso que não foi fácil. A atleta teve lesões pelo caminho, mas uma mudança na técnica de lançamento, proposta por José Custódio, veio mudar a prestação de Liliana. "Ela começou a treinar e rapidamente verificámos que ela era um talento com uma grande margem de progressão. Rapidamente passa para [lançamentos] de 45 metros, para os 50 metros. Mas em março de 2017, surge um contratempo com o desenvolvimento de uma pubalgia de caráter crónico". A fisioterapia não parecia funcionar no tratamento da lesão. Quando treinava, a dor voltava. Por isso, numa conversa entre o treinador e o presidente do clube, chegou-se à conclusão que a única forma de resolver o problema era fazer uma alteração técnica. "A Liliana tinha um lançamento a deslizar. Desde a posição inicial até à final, ela deslizava pelo círculo", explica José Custódio, "e a única solução era ela começar a dar um salto".
Já com um salto incorporado na técnica do lançamento do disco, Liliana progrediu. A atleta tinha chegado ao Novas Luzes a lançar cerca de 50 metros e com a mudança técnica - e com a ajuda do treinador - chegou aos 55 metros. A cada fim de semana, Liliana Cá melhorou as suas marcas até bater o recorde nacional no lançamento do disco, um recorde que é atualmente de 66,40 metros, uma marca que conseguiu a 6 de de março de 2021. Nessa altura, conta José Custódio, Liliana desenvolveu uma dor no ombro, que obrigou à procura de um novo equilíbrio do corpo.
Ainda este ano, nos Jogos Olímpicos de Tóquio, com 34 anos, ficou com o quinto lugar no lançamento do disco, com uma marca de 63,93 metros, feita à segunda tentativa na prova olímpica. O presidente do clube Novas Luzes mostra-se orgulho da prestação da sua única atleta olímpica. "A Liliana é um talento. É super dotada. Quando a Liliana entra em campo, tudo pode acontecer. Com a sua capacidade técnica e física, a Liliana transforma uns Jogos Olímpicos numa competição banal. (...) Ao ver a Liliana, tudo parece fácil."
A atleta conseguiu o melhor resultado de sempre de portugueses na prova de lançamento do disco, um resultado que para o presidente do clube é o cumprir de um objetivo. "Para o clube podemos dizer que foi missão cumprida. O nosso objetivo era apoiar alguém na sua ascensão desportiva, acabámos por ter a nossa quota parte neste processo. Se bem que uma quota parte mínima", diz a rir porque atribui o mérito à dupla atleta-treinador, Liliana e Herédio Costa.
"Lisboa devia ter seis a dez pistas para que a prática da modalidade fosse muito mais fácil"
O também ex-lançador de dardo e martelo, José Custódio, explica que apesar de o clube ser da Bobadela, em Lisboa, Liliana vem desde a Margem Sul treinar na pista de atletismo Moniz Pereira, no Lumiar. A falta de locais de treino para os atletas é apenas uma das razões apontadas pelo presidente para não haver mais atletas de alto nível em Portugal. "Porque é que não há mais «Lilianas Cás» no nosso país? Porque é que só nesta altura dos Jogos Olímpicos é que o desporto acaba por vir à baila? Há muito poucas pistas de atletismo. Lisboa devia ter seis a dez pistas para que a prática da modalidade fosse muito mais fácil para os jovens", afirma José Custódio.
Outra coisa que não potencia a prática desportiva, para o ex-atleta, é o facto de os horários de escola serem muito prolongados, o que não deixa tempo para os jovens poderem treinar depois do estudo. A terceira vertente a melhorar versa as câmaras municipais. Para José, as câmaras deviam, para além de construirem pistas de atletismo, enquadrar ex-atletas, dando-lhes empregos até dentro da própria câmara. Esta integração, explica o presidente do Novas Luzes, até ajudaria a promover o desporto. "Quem melhor que a Liliana Cá para promover ao lançamento do disco no futuro?", diz.
Liliana Cá vai voltar da capital do Japão em breve. Regressa com um diploma olímpico e o melhor resultado português de sempre na prova do lançamento do disco em Jogos Olímpicos.