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O italiano Valentino Rossi, o mais carismático e talentoso piloto da história do motociclismo, 'escreveu' este domingo, aos 42 anos, o último 'capítulo' de uma carreira única, que merecia, pelo menos, mais um 'doutoramento' e 'dispensava' os últimos anos.
"É um piloto com muito talento, muito rápido, muito inteligente, muito completo, com grande capacidade de improvisação na pista e, sobretudo, um piloto que, ao nível do marketing, foi o melhor da história. Soube vender-se muito bem e criar uma boa imagem, que o fez ter uma grande quantidade de fãs", resumiu o espanhol Jorge Lorenzo, em abril de 2012.
O italiano de Urbino, Tavullia, onde nasceu em 16 de fevereiro de 1979, foi, de facto, um 'ás' dentro e fora das pistas, daqueles desportistas que transcende a própria modalidade: o '46' é universalmente conhecido.
Rossi, 'the doctor', entusiasmou plateias e colecionou recordes, sobretudo na categoria principal (89 vitórias e 199 pódios), num percurso em que fica o sabor amargo de não ter conseguido igualar os oito títulos do compatriota Giacomo Agostini - ficou-se pelos sete, ou nove, juntando os de 125cc e 250cc -, pelo que não esquece 2006 e 2015.
Há 15 anos, e após cinco consecutivos, os três primeiros na Honda, falhou o 'tri' pela Yamaha, ao perder por cinco pontos para o norte-americano Nicky Hayden, 'culpa' de um 13.º lugar na última corrida, em Valência, resultante de uma queda.
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Quase uma década depois, em 2015, e já com os sete títulos na categoria 'rainha' (2001 a 2005, 2008 e 2009), ficou muito perto de novo cetro, que voltou a perder por cinco pontos, para Jorge Lorenzo, numa final de campeonato muito polémico.
"[Em Valência, em 2006], desperdicei a chance de um título que podia ter ganhado e aí já teria 10, mesmo ao ser-me roubado o de 2015", recordou, recentemente, o italiano, numa entrevista ao diário desportivo italiano Gazzetta dello Sport, não escondendo o quanto isso marcou a sua carreira.
Em 2016, Valentino ainda voltou a ser 'vice' - pela quinta vez, a 49 pontos de Márquez -, mas já não esteve perto do tão desejado oitavo título e, depois disso, foi quinto no campeonato de 2017 - conquistando a última vitória em 25 de junho, em Assen, com 38 anos e 129 dias -, terceiro em 2018, para depois se 'arrastar' no 'meio' do pelotão, ainda que feliz, a fazer o que fez toda a vida.
"O que perdes quando paras de fazer aquilo que gostas é mais do que aquilo que perdes quando desistes de algo quando estás no topo. Em 2013, voltei à Yamaha e nessa altura já era dado como acabado. Não gosto de acabar em 12.º ou 16.º, claro, mas se quisesse abandonar no topo já o teria feito há anos", explicou.
Apaixonado pelos 'motores' - seguindo as pisadas do pai Graziano - desde os dois anos, por via dos karts, e piloto de motos desde os 12, Valentino Rossi habituou-se desde muito novo a ganhar: depois de vários títulos regionais, sagrou-se campeão italiano, com uma Mito de fábrica, e em 1996, com 17 anos, entrou no Mundial de motociclismo.
Pela Aprilia, correu dois anos em 125cc e outros tantos em 250cc, com desfechos semelhantes: 'viu como era' na primeira época em cada categoria -- nono em 1996 e segundo em 1998 e venceu no segundo, em 1997 e 1999.
Como toda a naturalidade, rumou à categoria 'rainha' - então 500cc e MotoGP desde 2002 - e, também aí, agora pela Honda, foi logo campeão no segundo ano (2001), no que foi o primeiro de cinco títulos consecutivos, os últimos dois já na Yamaha, pela qual ganhou novamente em 2008 e 2009.
A ultrapassagem a Agostini parecia uma 'formalidade', mas não aconteceu - Rossi 'parou' aí, não mais se sagrou campeão nos últimos 12 anos de carreira, 10 na marca japonesa, pela qual se despediu, e dois na Ducati (2011 e 2012).
"Ninguém consegue apresentar-se ao mais alto nível por mais que uma década", disse à agência Reuters o australiano Mick Doohan, em abril de 2011, prognosticando, cedo demais, o 'fim' de Rossi, que, em 2015, esteve muito perto de voltar a triunfar, depois de dois cetros do jovem Marc Márquez.
"Quando era pequeno, tinha imensas motos de brincar com o modelo do Valentino. Era um grande fã. Gosto da forma dele pilotar. Ele era a minha referência, o meu herói, o meu ídolo, e agora é um grande prazer competir contra ele", disse Márquez, ao britânico The Guardian, em 2015, depois de, à Marca, em 2014, já ter classificado Rossi como "o melhor de sempre", acima de "(Giacomo) Agostini e (Mick) Dohan".
Márquez idolatrava Rossi, mas acabou por 'cair em desgraça' para o italiano, quando, em 2015, lhe 'roubou' o tão desejado oitavo título, ao interferir na luta deste - já não tão rápido como antes, mas mais cerebral - com Jorge Lorenzo, que acabou campeão, com muita polémica à mistura.
Depois disso, nunca mais esteve perto, mas continuou, até ao derradeiro grande prémio da época 2021.
"A minha forma de pensar é muito simples e para mim é estranho que algumas pessoas não o entendam. Talvez seja a minha forma de pensar que é diferente. Adoro o que sinto, a sensação, a adrenalina que sinto ao ganhar, ao ir ao pódio ou apenas fazer uma boa prova. Gosto dessa sensação", explicou Rossi, que disse hoje adeus, depois de adiar o fim até ao "máximo possível".