Governantes "não deveriam ir". Ver Mundial no Catar é "dar cobertura às violações dos direitos humanos"

Em declarações à TSF, Miguel Poiares Maduro afirma que a FIFA, enquanto "entidade global", deveria garantir que a organização do Mundial é feita "de forma compatível com os princípios que a FIFA proclama na sua política de direitos humanos e no princípio de não discriminação que está nos seus estatutos".

Nenhum governante devia ir ao Catar assistir aos jogos do Mundial. A ideia é defendida por Miguel Poiares Maduro que, em declarações à TSF, lembra que era presidente do comité de governção da FIFA quando a federação aprovou a política de respeito pelos direitos humanos, e acusa o organismo que tutela o futebol mundial de não ser consequente com o que apregoa.

Miguel Poiares Maduro considera que a FIFA "não tem obrigação de promover mudanças de regimes políticos", mas sendo "uma entidade global", "tem de lidar com estados que podem não ser democracias e que têm culturas diferentes".

"O que para mim é fundamental é que a FIFA deveria garantir que quem quer que organize o Mundial, tem de o fazer de forma compatível com os princípios que a FIFA proclama na sua política de direitos humanos e no princípio de não discriminação que está nos seus estatutos. Nada disso aconteceu e, do meu ponto de vista, as entidades públicas também não devem ir para não permear este tipo de comportamento", afirma.

Por isso mesmo, o investigador criou uma petição para que nenhum governante de países democráticos, nomeadamente Portugal, vá ao Catar.

"Esses regimes chegam a corromper para obter estes grandes eventos, porque é uma forma de eles reforçarem o seu capital político, protegerem-se internamente, ganharem alguma popularidade e apoio social internamente e de ganharem respeitabilidade a nível internacional", explica.

"Se os chefes de Governo e os chefes de Estado vão ao Mundial, o que estão a fazer é dar cobertura às violações dos direitos dos trabalhadores, das mulheres e dos homossexuais. Os responsáveis portugueses não deveriam ir, não é dessa forma que apoiam ou deixam de apooiar a equipa portuguesa. Podem apoiar a equipa portuguesa em Portugal", defende.

Relativamente às afirmações do presidente da FIFA, Gianni Infantino, que no sábado classificou de hipócritas os críticos do Catar e defendeu que a Europa devia pedir desculpa ao resto do mundo pelos últimos três mil anos de história, Miguel Poiares Maduro não encontra palavras em português para classificar as declarações do suíço.

"Ouvir aquelas declarações lembra-me a expressão inglesa "hubris" que é arrogância misturada com a total ausência de perceção sobre a realidade. Seguramente que os países ocidentais têm muitas culpas ao longo da sua história e tiveram comportamentos muito negativos, mas isso é mais uma razão para se preocuparem e terem responsabilidade moral e cívica com os direitos dos migrantes, das mulheres e dos homossexuais", conclui.

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