"Nunca houve receio. Só perdemos um jogo e, por isso, sempre acreditámos"
Nuno Santos em entrevista

"Nunca houve receio. Só perdemos um jogo e, por isso, sempre acreditámos"

A união dos jogadores, o segredo do discurso jogo a jogo, a experiência e a juventude do balneário. Tudo lançado com o trabalho do treinador Rúben Amorim. São as ideias de Nuno Santos, campeão nacional do Sporting, em entrevista à TSF.

Depois de uma boa época no Rio Ave, que permitiu dar novamente um salto na carreira, honestamente sempre pensou que era possível na temporada de estreia no Sporting, alcançar o título de campeão nacional?

Nós sempre acreditamos desde o início, porque criámos um grupo forte e muito unido. E sabíamos que podíamos fazer coisas bonitas, como fizemos este ano. No início, muita gente não acreditava que isto era possível, fazer o que fizemos. Mas nós criámos um grupo, e foi para isso que o criámos. Para mim, foi o mais importante para permitir a conquista do título e da Taça da Liga.

O Nuno reforça a importância do balneário e a união dos jogadores. Foi o grande segredo para o Sporting conseguir atingir os objetivos?

Sim, sem dúvida. Não só para mim, como para todos os outros jogadores. Porque temos um grupo fantástico. Tanto os miúdos como os jogadores com muita experiência, todos mostrámos muita união. Se vissem os nossos treinos, conseguiam observar o grande respeito entre todos. E assim conseguimos levar o Sporting a atingir este feito passados tantos anos.

Quando recebeu a proposta do Sporting, tinha outros clubes interessados. O que o levou a aceitar o convite?

O desafio. Essencialmente isso. E depois a vontade do Sporting, também pela vontade do Hugo Viana, do mister e do presidente. Não me fizeram pensar duas vezes. Mas foi o desafio de jogar no Sporting que mais me convenceu.

O discurso do Sporting e do treinador Rúben Amorim, foi sempre de jogo a jogo. Mesmo com a pressão da imprensa, o discurso não mudou. Dentro do balneário a mensagem era a mesma?

Sempre, sempre jogo a jogo. Porque só assim, ganhando todos os fins de semana, é que consegues atingir algum objetivo, que na verdade não tínhamos nada traçado. Quando começaram a surgir menos jogos começas a pensar, é possível, não é possível. Mas foi jogo a jogo e com vitória a vitória.

Mas quando a vantagem foi conseguida, e a liderança estava defendida o grupo ia falando sobre isso, ou não?

Acredite que não, porque tínhamos muitos miúdos que ainda não tinham passado por isto. Eu já passei por um grupo que também lutava pelo título e já tinha sido campeão nacional. Era importante passarmos uma mensagem de jogo a jogo. E depois temos direito a sonhar, porque temos objetivos na vida tanto coletivamente como individualmente.

Na reta final do campeonato o Sporting perdeu alguns pontos. O FC Porto e o Benfica conseguiram uma aproximação na tabela classificativa. Alguma vez recearam que as coisas iam ficar muito difíceis?

Nunca houve receio. Só perdemos um jogo e foi na penúltima jornada. Nunca tivemos receio. Mesmo quando conseguíamos chegar à vitória no último minuto. Era aí que mostrávamos a vontade de vencer e que o grupo era espetacular, sempre a lutar para o mesmo lado. Foi esse o segredo. Se entrassem no nosso balneário, conseguiam perceber que todos estavam a remar na mesma direção. Os que jogavam e os que não jogavam, sempre a darem tudo nos treinos.

Qual foi o jogador mais fundamental ao longo da temporada?

Eu não gosto de individualizar, mas a escolher alguém seria o nosso capitão, o Coates. Mas também o Luís Neto, o Antunes e o João Pereira, que agora acabou a carreira, e que trouxeram todos eles muita experiência. Mesmo quando não jogavam estavam sempre lá para nos ajudar. Mas referindo, o Coates, é um jogador fantástico e que sempre pensa no grupo. Foi uma peça fundamental esta época para conseguirmos o título.

Nos vídeos e conversas que o Sporting divulgou ao longo da temporada, foi possível ver alguns momentos de muita diversão no plantel e brincadeiras entre os jogadores, e até troca de palavras. O Nuno chamou de "ranhoso" ao João Pereira, o que quis dizer com isso?

(risos) "Ranhoso", quer dizer em campo como se vive o futebol. Eu por exemplo transformo-me no campo, vivo muito o futebol, por vezes demasiado. Muitas pessoas dizem para eu viver mais o momento, e pensar mais mim. Parece que é sempre o jogo da minha vida, eu tenho que mudar isso. Mas não vou mudar a minha maneira de ser, porque é isso que faz o jogador que sou. Este ano ele até esteve um jogador mais calmo, mas conhecendo-o de anos anteriores... Eu disse aquilo numa publicação de Instagram, mas até consigo ser mais "ranhoso" do que ele (risos). Tenho 26 anos e tenho os nervos à flor da pele.

Mas isso também ajudar a ter as "ganas" dentro de campo?

Sim, sim. Eu não quero deixar de ser assim, é verdade que tenho que me acalmar um pouco mais, mesmo com os árbitros. Não devo estar focado nisso. Mas é um momento, e depois de um minuto já estou a pensar noutra coisa e no jogo, mas é verdade, eu e ele, somos dois jogadores "ranhosos", mas é sempre bom ter jogadores assim no plantel.

O Nuno apareceu muito cedo no futebol português, com passagens pelo FC Porto e pelo Benfica, clubes com a mesma dimensão que o Sporting. Mas acredita que agora está a mostrar todas as suas qualidades?

Já tinha demonstrado anteriormente. Este é realmente um bom momento da carreira, mas no Rio Ave e no Benfica já tinha demonstrado valor e tinha passado bons momentos. Mas agora no Sporting a jogar regularmente, e ser campeão nacional com assistências e golos, foi um ano fantástico. Acredito que se não fossem as lesões... tive duas lesões muito graves que durante dois anos interromperam a minha carreira.

Chegou a temer, devido a essas lesões, pelo final da carreira?

Isso não, porque o que consigo mostrar dentro de campo, também mostro cá fora. Por isso consegui ultrapassar essas lesões, sou forte psicologicamente. Não era qualquer um que conseguia ultrapassar os problemas que eu tive.

Olhando para o futuro. O treinador Rúben Amorim já disse que a final da Supertaça, é para ganhar, e sendo campeão, o Sporting tem que ser candidato à conquista dos títulos?

Não digo isso. A Supertaça é uma final. O resto não somos candidatos a nada. Como se sabe, o Sporting não era campeão há 19 anos. E fomos agora. Não quer dizer que somos candidatos. É outra vez jogo a jogo, e depois logo se vê.

Foram anunciados os convocados de Fernando Santos para o Euro 2020. Tinha esperança de entrar na lista dos eleitos?

Sim, tinha. Sempre tive essa esperança, porque fiz uma grande época. A cabeça do jogador tem sempre a ideia de entrar na Seleção, e ainda por cima, eu sou muito ambicioso. É continuar a trabalhar e esperar que o meu nome esteja lá um dia.

No Sporting foram convocados três jogadores. O Pedro Gonçalves, o Nuno Mendes e o Palhinha. São justas estas chamadas?

Eles merecem, tal como outros jogadores portugueses do nosso plantel mereciam. Mas só podem ir 26 jogadores e a escolha do selecionador é sempre difícil.

O Sporting este ano apostou muito na Academia de Alcochete. Estão no plantel muitos jovens jogadores, tal como o Nuno Mendes. Ele tem perfil para ser jogador de "top mundial"?

Ainda é muito jovem, mas já tem uma maturidade acima da média. É muito forte fisicamente. Tem que melhorar como todos nós. Mas já está na seleção, é internacional A com 18 anos. Para mim é um dos melhores defesas esquerdos na Europa, com a idade dele. E um jogador com um potencial enorme e vai chegar longe.

E com o mercado de transferências, está tranquilo com o futuro?

Muito tranquilo. Sempre estive. Estou feliz no Sporting e quero jogar a Liga dos Campeões com o Sporting, porque é um objetivo de todos, porque muitos de nós nunca jogaram esta prova

O plantel foi feito com uma mistura de juventude e experiência. Os jovens sempre "acataram" os conselhos dos mais experientes, ou era preciso colocar alguém ordem?

(risos) Isso era, isso era. O Eduardo Quaresma tinha que o colocar em ordem, mas na brincadeira, porque gosto muito dele. Mas se estivessem no nosso refeitório conseguiam ver que o ambiente era muito bom. Aliás, no convívio os mais novos é que faziam sempre mais barulho, nós jogadores com mais experiência às vezes estávamos mais calados, e eles faziam a barulheira toda. Mas isso é que fez este grupo fantástico, todos juntos conseguimos olhar para os dois lados, mesmo quando tínhamos que lhes abrir os olhos. Mas é um ano que nunca vou esquecer, dos melhores grupos por onde já passei.

O Nuno teve muita influência na frente de ataque do Sporting com golos e assistências, uma frente reforçada com Paulinho no mercado de janeiro. É verdade que a chegada do Paulinho não mexeu com o balneário?

Nada disso. O Paulinho é uma excelente pessoa, um grande amigo. Gosto muito dele. Todo o grupo de trabalho adora o Paulinho. Olhamos muito para nós, e ele deu mais positividade ao plantel, porque trouxe qualidade. O que se dizia lá fora, não entrou no balneário.

Como é trabalhar com um treinador jovem com apenas 36 anos. O Rúben Amorim tem pouca diferença de idade para alguns jogadores.

É sempre bom. Com respeito, muitas vezes olhamos para ele quase como um colega de equipa. Ele deixou de jogar há pouco tempo e isso é importante a forma como interage connosco, como vive o momento e o futebol. Ele sabe lidar com os jogadores, porque foi jogador há pouco tempo. Foi muito importante a forma como liderou o grupo, por isso, dou-lhe os parabéns pelo grupo que construiu e como nos liderou nesta época fantástica.

Ao longo da temporada foi possível ver em alguns vídeos nas redes sociais do Sporting, um Rúben Amorim muito brincalhão junto dos jogadores. Quando era preciso colocar ordem, como se comportava o treinador?

É o nosso treinador, e por isso basta mudar a forma como olha e como fala. Mas nem era preciso isso, porque o grupo rapidamente percebia que era preciso mudar o "chip", para estarmos mais concentrados.

Num balanço da temporada, qual o momento mais marcante?

Tive vários, mas o mais marcante foi o último jogo com o Boavista que nos deu o título. Fizemos um encontro fantástico, foi uma vitória por 1-0, mas podia ter sido por mais. Sair daquele jogo com a assistência para o golo da vitória e ganhar o campeonato, foi extraordinário. Para mim, sendo o jogo do título, foi o mais marcante.

Discute-se muito futebol em casa?

Sim, sim. Porque a minha mulher também já jogou futebol. Ela sabe sempre falar comigo.

E recebe conselhos da Diana?

Sim recebo muitos conselhos, e ela diz sempre que eu joguei bem, nunca diz mal (risos).

Tem sempre nota positiva.

Sim, sim, sempre.

Mas também é bom chegar a casa, e ter alguém que percebe a vida de um futebolista?

Sem dúvida que sim. Porque, por vezes quando as coisas não correm bem, chegamos meio chateados a casa, apesar de este ano terem sido quase só empates. Mas por vezes não jogamos o que podíamos conseguir, e essa compreensão é sempre boa.

Agora é tempo de descansar.

Sim, vai saber bem. Foi uma época desgastante e agora é preciso descansar umas semanas, já que não fui convocado para a seleção... Estou a brincar! (risos) Mas é preciso descansar para depois começarmos a preparar a próxima temporada.

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