O 2021 do desporto: a longa caminhada merecia outro aplauso

De 2021 guardaremos sempre a distância que separa uma multidão em festa, numa noite de maio em Lisboa, e um estádio vazio, lá do outro lado do mundo, em Tóquio. Os Jogos Olímpicos da pandemia, que foram também os melhores de sempre para Portugal. O Sporting voltou às ruas 19 anos depois.

"Esta noite não vou dormir. Talvez vá andar pela cidade, talvez vá caminhar. Mas eu hoje não vou dormir", explicava Pedro Pablo Pichardo ao telefone na TSF, ao raiar do sol em Lisboa. Noite dentro em Portugal, o triplista conquistava o ouro nos Jogos Olímpicos, confirmava para as cores portuguesas, aquelas a que chamou suas desde 2018, a melhor participação de sempre de Portugal nos Jogos Olímpicos.

Como no triplo salto, a explosão final foi decisiva nestes jogos. Havia já um certo burburinho a meio das provas, pela ausência de medalhas quando, por fim, surgiram as conquistas e se esquecerem as críticas.

Pedro Pablo Pichardo não ficou satisfeito com o ouro. O pai e treinador havia colocado a fasquia bem distante, na marca histórica dos 18 metros. Fica para Paris, talvez, anunciava Pedro. Para daqui por três anos, nesses jogos que hão de surgir já ao virar da esquina.

Patrícia Mamona foi prata também no triplo salto, ela que havia lidado com a Covid-19 e com as dores que lhe tolheram o corpo meses antes de Tóquio. Fernando Pimenta lidou com os fantasmas do Rio de Janeiro e, na alegria da paternidade que anunciava, foi de Tóquio com o bronze no k1 1000 metros em canoagem.

Jorge Fonseca bronze no judo, categoria de -100 kg, não estava satisfeito. "Estou feliz, mas quero mais. Quero ser o melhor de todos os tempos", declarou ainda em Tóquio.

O fim da longa noite

Valeu a pena esperar. Passaram 19 anos desde a última festa leonina em Lisboa e no país. Milhares de adeptos gritaram no exterior do Estádio José Alvalade o golo de Paulinho. "Foram anos difíceis para muita gente. Tiveram hoje a sua recompensa", explicava, calmo, Rúben Amorim. Festejaram no Marquês de Pombal, numa noite marcada por incidentes. Uma noite onde se esqueceu a pandemia em Lisboa.

A equipa que construirá vivia de pequenas relações: a escolha do guarda-redes canhoto Adán, e do seu antigo companheiro no Betis Feddal no primeiro terço de terreno; a linha defensiva com um jovem Gonçalo Inácio que faz corar quem o questiona dizendo que "Inácio joga de pé trocado"; o rejuvenescido Sebastian Coates, líder da defesa, marcador de golos em momentos de aperto; João Mário regressou para passar testemunho ao jovem Matheus Nunes, surpreendido enquanto tomava banho pelo telefonema de Amorim para o chamar à equipa principal; João Palhinha chegou e conquistou, no Sporting e na seleção. Pedro Porro e Nuno Mendes deram asas a um leão com muitas soluções internas: Matheus Reis, Ugarte, Nuno Santos, Paulinho e os seus 15 milhões de euros, Pedro Gonçalves o médio com 23 golos nos pés na temporada do título.

A Taça de Portugal viajou até Braga pela 3.ª vez na história. Vitória do Sporting Clube de Braga na final com o Benfica de Jorge Jesus em Coimbra (2-0). A Taça de Liga sorriu ao Sporting, que conquistou ainda a Supertaça.

Recordes e desilusões

Com o regresso do público aos estádios, Portugal caiu nos oitavos de final do Campeonato da Europa de Futebol diante da Bélgica. Perante a queda dos campeões de 2016, a Itália regressou às conquistas na final do Wembley, diante da Inglaterra.

Cristiano Ronaldo terminou o ano com um novo recorde. É o melhor marcador de sempre das seleções, com 115 golos marcados com a camisola das quinas. "Eu sei que este recorde é meu. E é único. E mais um para o museu." Para o Funchal, e para o tal museu, Cristiano Ronaldo pode agora enviar uma nova "velha" camisola. O regresso a Manchester e ao United coincide com a histórica saída de Lionel Messi de Barcelona para Paris, para vestir as cores do Paris Saint-Germain.

Do outro lado do Atlântico, Abel Ferreira repetiu o feito de Jorge Jesus e conquistou a Taça Libertadores da América. Ao serviço do Palmeiras, assegurou um lugar na história do futebol sul-americano ao conquistar a prova duas vezes no mesmo ano. As edições de 2020 e 2021 para o verdão. Já Leonardo Jardim levou o Al-Hilal da Arábia Saudita até à conquista da Liga dos Campeões Asiática.

No Estádio da Luz o ano foi de mudanças. Luís Filipe Vieira foi detido, investigado, suspendeu funções e tornou-se demissionário. Vieira Passou a pasta da presidência do Benfica a Rui Costa, até então vice-presidente. O antigo camisola dez das águias assumiu a batuta, anunciou um "novo dia para o Benfica" e foi eleito nas eleições antecipadas do clube, as eleições com maior participação de sempre de uma associação desportiva em Portugal. Termina o ano com um abraço de despedida a Jorge Jesus, para selar o fim de uma relação que, à segunda passagem do treinador pela Luz, terminou sem títulos.

Lugar na história dentro de um pavilhão

Nos pavilhões, Neemias Queta fez pelo basquetebol português aquilo que nenhum outro atleta conseguira até então. O primeiro português escolhido no Draft da NBA tornou-se também o primeiro a jogar na mais importante competição de basquetebol nos Estados Unidos da América.

O Sporting dominou a Europa com os títulos europeus no hóquei em patins e futsal. Para a seleção portuguesa de futsal, o ano terminou em glória e lágrimas. Ricardinho ergueu o troféu de campeão do mundo para Portugal. A seleção juntou, na Lituânia, o título mundial ao europeu. Foi o último capítulo da história de um dos melhores jogadores de sempre da modalidade, que anunciou pouco depois que aquela final havia sido para ele o último jogo com a camisola das quinas.

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