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A Dinamarca fechou a qualificação para o campeonato do mundo de 2022 no primeiro lugar da qualificação, com uma única derrota. Já tinha mostrado competência no último europeu. Do círculo polar ártico emergiu esta temporada um dos resultados mais surpreendentes, a derrota da Roma, de José Mourinho, em Bodo, casa do Bodo/Glimt, 6-1, jogo com contornos de escândalo, numa latitude onde os clubes do sul da Europa não estão habituados a sucumbir.
O treinador português Pedro Hipólito encontra nas experiências recentes na Dinamarca - 3º escalão com o Naestved - e na Islândia - passagens por Fram Reykjavik e ÍBV - algumas explicações para a evolução do futebol nórdico. "Um trabalho de formação, de aposta nos jovens, nas academias, em países relativamente pequenos, mas que têm uma cultura desportiva muito forte, que começa nas escolas", refere o técnico português de 43 anos.
Na Dinamarca, explica, os clubes procuram que o jogador dinamarquês seja aposta, o mais depressa possível, na primeira equipa. "É um trabalho que se estende à 1ª, 2ª e 3ª divisão", refere. "Há apoios, prémios por objetivo para o tempo de jogo atribuído anualmente aos jovens nas primeiras equipas. Lá como cá - Portugal -, cada academia deve ter determinados requisitos para manter o nível atribuído".
Há na formação um ranking que separa as academias de formação por estrelas, categorias que classificam o trabalho realizado e definem uma hierarquia. "No futebol de formação não há subidas nem descidas. É o sistema de estrelas que define onde está cada clube". O apoio das federações locais reforça os objetivos dos clubes. "Podemos falar no futebol, mas também no andebol onde são os melhores do mundo", refere.
Os treinadores estrangeiros procuram ali, entre Islândia, Suécia, Noruega ou Dinamarca, oportunidades para crescer neste ambiente de crescimento acelerado. Albert Capellas, atual coordenador técnico da formação do Barcelona passou pela federação dinamarquesa, orientou os sub-21 até este verão, mas antes já tinha andado pelo Brondby. Também espanhol, Marti Cifuentes (Aalborg) é o único treinador não-escandinavo na atual primeira divisão dinamarquesa.
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A liderar a liga dinamarquesa, o adversário do Sporting de Braga foge um pouco da dinâmica que federação nacional e clubes procuram para o futebol dinamarquês. "Não é um clube histórico da Dinamarca, mas antes um emblema que cresceu nos últimos anos com grande investimento. Será, apesar de não ter conquistado o título no ano passado, o clube mais forte da Dinamarca", aponta Pedro Hipólito. Mas o projeto não está focado apenas na formação.
"O método do Midtjylland é um pouco diferente daquilo que se pratica na Dinamarca". Uma marca de água do clube aponta a outras latitudes. "Este clube tem ligações a Inglaterra, ao Brentford. Na Dinamarca aposta-se muito nas academias, no jogador dinamarquês. O Midtjylland procura muito jogadores através do scouting, atletas estrangeiros para valorizar e vender". Um modelo inspirado nos exemplos do grupo Red Bull, em Leipzig, Salzburgo, entre outros clubes e cidades em diferentes continentes.
Nesta política de compra e venda, surgem nos últimos anos negócios que garantem fundos necessários para continuar o investimento. Exemplos das vendas, sempre acima dos cinco milhões de euros, de jogadores numa lista que vai engrossando, época a época, em Herning. Frank Onyeka (Brentford), Anders Dreyer (Rubin Kazan), Paul Onuachu (Genk), Bucacarr Sanneh (Anderlecht), Drexler (Colónia), Poulsen (Mönchengladbach), Sorloth (Crystal Palace), Novak (Trabzonspor), Sisto (Celta de Vigo).
"Ainda existe alguma dificuldade em reter os melhores talentos nestas equipas. Facilmente os jogadores são vendidos, muito cedo, para outros países como os Países Baixos, Bélgica ou Itália, para campeonatos mais competitivos.
Da Noruega, o resultado choque da edição de estreia da Liga Conferência entre Bodo/Glimt e AS Roma, os 6-1 impostos ao emblema de José Mourinho, surpreenderam a Europa do futebol. "Não é só a Dinamarca mas toda a Escandinávia" que o futebol está a crescer a grande velocidade, aponta Pedro Hipólito.
"Ao contrário do que possamos pensar, o jogador dinamarquês ou islandês não é tosco. Tem qualidade técnica. O que procuram aliar é a competência tática à técnica, sem nunca descurar a componente física. São atletas fortes, intensos e que cultivam essas qualidades", explica o treinador português. "A disciplina coletiva vem sempre primeiro. Só depois o talento individual".
Exemplo desta cultura, a emergente seleção principal da Dinamarca. "A seleção dinamarquesa joga em vários sistemas. A disciplina de equipa é o mais importante, a individualidade está sempre abaixo do que é a equipa. Se é preciso jogar em 3x5x2 e esperar pelo adversário, fá-lo-ão, se é necessário jogar em 4x3x3 e pressionar o adversário, então, também o vão fazer". Atributos que ajudam a explicar o sucesso recente na qualificação para o mundial do Qatar, numa fase de grupos com apenas uma derrota, e o primeiro lugar do grupo garantido.