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Foi esta quarta-feira formalizada, na sede da UEFA, na Suíça, a candidatura conjunta de Portugal, Espanha e Ucrânia ao Mundial de futebol de 2030. "Tem especial significado fazer este anúncio na casa do futebol europeu. O futebol é muito mais do que futebol, e não seria necessário invocar outra razão para justificar o que hoje aqui nos traz. Futebol é superação, compromisso, resiliência e inspiração", começou por afirmar Fernando Gomes.
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O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) recordou que depois da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, Portugal recebeu "milhares de exilados", "famílias separadas" e "pessoas desfeitas pelo luto, pela angústia e incerteza". "Abrimos as portas da cidade do futebol a algumas dessas famílias, somos e continuamos a ser testemunhas do seu sofrimento (...)", lembrou, sublinhando, com orgulho, a solidariedade dos clubes.
Afirmando que "toda a Europa respondeu a uma só voz", Fernando Gomes reconhece que "fizemos muito", mas "temos de continuar a fazer".
"A consciência da realidade que continua a viver a Ucrânia a isso nos obriga. Foi esta a razão que levou Portugal e Espanha a integrar a Ucrânia na candidatura ao Mundial de 2030", justificou, admitindo que esta possa ser uma decisão "inesperada", para alguns. Mas para os dois países, Portugal e Espanha, esta foi ma decisão "lógica e natural".
"Certamente, haverá muitas pessoas que vão pensar que o mais fácil para Portugal e Espanha seria seguir com esta candidatura tal como estava, indiferentes ao que se passa na Ucrânia. Permitam-me discordar. Acho que seria isso o mais difícil e incompreensível. A Ucrânia não pode desaparecer das nossas memórias depois de a guerra acabar. Quando esse dia chegar, tenho a certeza de que continuará a precisar de ajuda e nós queremos e estaremos presentes", frisou Fernando Gomes
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A proposta foi apresentada em junho de 2021 e recebeu o apoio da UEFA, enfrentando a concorrência, pelo menos, de um projeto sul-americano (Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai), um africano (Marrocos) e um intercontinental (Arábia Saudita, Egito e Grécia).
A comissão coordenadora do Mundial2030, liderada por António Laranjo, vai passar a incluir representantes da delegação ucraniana, chefiada pelo presidente da UAF, Andrii Pavelko, cuja adesão vai ter os seus termos "discutidos e definidos no devido tempo".
"Tenho orgulho em pertencer há muitos anos à família do futebol e estou seguro de que ela apoiará esta iniciativa. Que este seja, por isso, o início do caminho que nos leve a um Mundial que reafirme os valores da pessoa humana, da liberdade e da igualdade entre nações grandes e pequenas. Que seja o Mundial que reafirme os valores de tolerância e paz que estão estampados na Carta das Nações Unidas", terminou Fernando Gomes.
O Qatar acolherá a 22.ª edição do campeonato do mundo este ano, de 20 de novembro a 18 de dezembro, seguindo-se uma inédita coorganização entre três países (Canadá, Estados Unidos e México), em 2026, e a celebração do centenário da prova, em 2030.
A escolha dos países organizadores do Mundial2030 está prevista para o 74.º congresso da FIFA, em 2024, após Portugal ter recebido o Euro 2004 e a Espanha o Euro1964 e o Mundial1982, ao passo que a Ucrânia albergou o Euro2012, em conjunto com a Polónia.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia já causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com a ONU, que encara esta crise de refugiados como a pior em plena Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia, a invasão daquela nação tem sido condenada pela generalidade da comunidade internacional, que responde com envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra no leste europeu 5.996 civis mortos e 8.848 feridos, vincando que estes números estão muito aquém dos reais.
O principal campeonato de futebol está a decorrer desde agosto dentro das fronteiras ucranianas, mas com partidas à porta fechada e na proximidade de abrigos contra os bombardeamentos, enquanto a seleção nacional joga como visitada na vizinha Polónia.