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Se não estivessem em campo estrelas como Cristiano Ronaldo e Bruno Fernandes, Mario Ferri teria sido o nome mais falado no jogo de segunda-feira entre Portugal e o Uruguai, no Mundial do Catar. Tudo porque minutos antes de o jogador do Manchester United inaugurar o marcador, o italiano invadiu o campo do Estádio de Lusail, o maior entre os oito da competição, com uma bandeira multicor, em apoio à comunidade LBGTQ+, e a usar uma t-shirt com duas mensagens: "salvem a Ucrânia" e "respeito pelas mulheres iranianas".
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Ainda deixou a bandeira no campo, como gesto de solidariedade com a comunidade LGBTQ+, mas tanto Mario Ferri como a bandeira foram retirados do relvado pelos seguranças. No entanto, fica para a história como o autor do primeiro grande protesto no Campeonato do Mundo no Catar, um país que proíbe a homossexualidade e tem um grande historial de desrespeito pelos direitos humanos.
Apesar de ter ficado mundialmente conhecido após este gesto, o ativismo de Ferri vai muito além do que acabou de fazer no Médio Oriente. Nascido a 13 de abril de 1987 em Pescara, Itália, Mario Ferri é futebolista, mas é mais conhecido por invadir jogos em que não faz parte dos convocados.

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No início deste ano, em março, o jogador de 35 anos tinha contrato com uma equipa indiana da segunda divisão, o United Sports Club, sendo a Ásia o terceiro continente em que jogou futebol profissionalmente. De resto, os maiores golos que marcou foram mesmo enquanto vivia na Polónia, a ajudar refugiados ucranianos a encontrar asilo depois da invasão russa, em fevereiro.
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"Tenho um amigo [na Polónia] que me contou o que se passava. O que vi na Índia tocou-me realmente. As pessoas lá estão a sofrer tanto. Precisava de dar algo em troca, mesmo sendo num contexto totalmente diferente. Por isso voei para a Polónia, aluguei um carro e conduzi até à fronteira com a Ucrânia. Faço-o por minha conta. Pago tudo e não quero nada de volta. Quase tive uma discussão no outro dia porque vi um homem a pedir dinheiro para fazer o que eu faço. É inaceitável, as pessoas estão desesperadas aqui e há alguns que querem fazer disto um negócio", contou Mario Ferri, na altura, à CBS Sports.
Em outubro de 2010 invadiu vários jogos de futebol, com destaque para o confronto entre o AC Milan e o Real Madrid, a contar para a Liga dos Campeões. Dois meses mais tarde viria a ser preso em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, depois de interromper a final da Taça do Mundo de Clubes, entre o Inter de Milão e o Mazembe do Congolside. Neste dia, vestiu uma t-shirt do super-homem com a expressão "free sakineh", uma referência à mulher iraniana que na altura estava em risco de ser apedrejada até à morte.
Quatro anos depois, também num Campeonato do Mundo, voltou a invadir um jogo, por razões políticas relacionadas com as zonas pobres do Brasil. Em 2017, a Seria A italiana viu-o novamente quando o Nápoles recebeu a Juventus, em abril. Um já vasto currículo de protestos e causas.