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Quase depois meses depois do desastre, a água para encher uma das piscinas do Sport Algés e Dafundo, no concelho de Oeiras, voltou a correr. Mas a alegria de ver o momento não deixa apagar a memória do que aconteceu no final do ano. "Não se podia entrar aqui, eram os bombeiros a tirarem água daqui. Esta piscina teve que ser cheia duas ou três vezes para limpar e tinha muita terra", recorda o presidente do clube, ao mesmo tempo que aponta para as marcas na parede, que não escondem a altura que a água atingiu.
António Bessone Basto, que lidera o Sport Algés e Dafundo há menos de um ano, nunca pensou ver o clube, que o ajudou a formar-se enquanto atleta de natação, no estado em que ficou: "Estive com a água pela cintura e pelo peito com os empregados a tentar salvar coisas. Vi-os a chorar. Isto é como ter estado na tropa, em Angola ou Moçambique, e ver tombar amigos. São coisas que nos marcam, eu estou marcado para toda a vida com o que vi".
E o que viu foram as fortes chuvas encaminharem-se para as instalações do clube, levando consigo lixo e lama. Por onde passavam causavam estragos avultados. Desde tubagens, ao circuito elétrico, pouco sobrou, mas os filtros da piscina principal, que também ficaram inoperacionais, já estão quase todos a funcionar. "É bom para arrancar porque temos a piscina fechada há dois meses com 600 nadadores", assinala António Bessone Basto.
Ouça a reportagem com sonorização de Mariana Sousa Aguiar
O presidente do clube chegou a dizer, aos microfones da TSF, que 500 mil euros não chegariam para por o Sport Algés e Dafundo de pé. A Câmara de Oeiras já lhe garantiu que ia transferir 270 mil euros, mas "estas coisas demoram sempre algum tempo". O dinheiro ainda não chegou, mas já tem destino. "Estão aqui coisas que ainda não estão pagas (...). A natação é a última coisa a arrancar porque é tudo muito caro", afirma António Bessone Basto, ao mesmo tempo que toca nos filtros recém-estreados.
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Em donativos, o clube centenário conseguiu angariar 30 mil euros. Parte deste dinheiro já foi gasto na recuperação dos ginásios, que foi a zona mais afetada. No percurso até lá passamos pelo pavilhão, onde a cobertura deixou passar alguma água, mas sem danos de maior. Tanto assim é que as aulas de basquetebol estão a decorrer.
Já dentro de um dos ginásios, as memórias regressam ao discurso do presidente do Sport Algés e Dafundo: "A água entrou por debaixo da porta, parecia um rio". Aqui treina-se judo. As aulas nunca pararam, mas não decorrem com total normalidade, uma vez que atletas e treinadora têm de estar apenas numa das zonas do ginásio. A outra parte ainda tem humidade e "a caixa que está por baixo do tatami tem de ser toda levantada".
A água causou os maiores estragos num ginásio que fica na parte mais baixa das instalações. Chegou a atingir, nas contas de António Bessone Basto, o metro e meio de altura. As aulas de ginástica, tal como as de judo, nunca pararam, mas tiveram de se realizar na parte superior das instalações. As obras feitas com os donativos já permitem o regresso à normalidade.
"O chão de madeira levantou. O nosso pavilhão foi todo remodelado a parte do chão. Os armários também ficaram danificados, muito material ficou húmido", relata a professora de ginástica. Tânia Vieira conta que, devido às circunstâncias, as aulas incidiram mais sobre a "parte corporal e menos de aparelho". Agora, alegria de estar de volta é partilhada pelos alunos. O porta-voz é o António.
"Gosto muito de estar aqui porque é um ambiente muito agradável para mim e para todos os meus colegas também", conta.
O mesmo não podem dizer os 600 nadadores do Sport Algés e Dafundo. Nestes quase dois meses têm treinado noutras bandas e nem sempre com as melhores condições.
"Tenho miúdos a nadar em água fria, isto era assim no meu tempo e alguns pais agora já não querem isso e estão a levar os filhos. Nós temos atletas aqui que os sonhos deles são as olimpíadas e não podem treinar uma vez por dia, tem de ser bidiário e não o estão a fazer", desabafa António Bessone Basto.
Apoio do Governo e da Câmara de Oeiras não tem faltado, dentro do possível, mas há uma figura que tarda em aparecer.
"Ainda hoje estou à espera que o Presidente da República passe por cá porque passou também aqui pelo clube, sabe bem que existe", afirmou o líder do Sport Algés e Dafundo.
António Bessone Basto insiste que é urgente mudar de instalações também porque as cheias são frequentes. Mas, a curto prazo, o objetivo é outro.
"Segunda-feira, se conseguir ter a piscina, venho vestido de gravata e sapatos e dou um mergulho aqui vestido, que há muitos anos que não faço isso. Eu é que vou inaugurar a piscina", revelou.