Miguel Poiares Maduro

Tantos escândalos e nada

Na última semana, terminei a minha crónica sobre o papel do Comité Olímpico Internacional no escândalo relativo ao desaparecimento da tenista chinesa Peng Shuai, perguntando quantos escândalos desportivos serão necessários até finalmente fazermos algo para impor um mínimo de escrutínio e boa governação nas organizações desportivas. Estava longe de imaginar os acontecimentos desta semana. No sábado assistimos a uma página negra do futebol com o jogo entre o Benfica e a B-SAD a ter lugar, mesmo se esta equipa, devido à Covid, apenas poder alinhar com 9 jogadores (dois dos quais guarda-redes). Todos parecem criticar o que se passou, mas ninguém assume responsabilidade por um momento que nos deveria envergonhar a todos, independentemente do escândalo internacional que causou. Isto, na mesma semana em que tiveram lugar mais buscas relativas a uma investigação criminal que parece envolver a grande maioria dos clubes portugueses e também os seus responsáveis (atuais ou passados) e intermediários do futebol. Não conhecendo nada sobre os processos em causa não me pronuncio sobre eles, mas direi que dois dados alimentam as suspeitas em torno do nosso futebol. Por um lado, a concentração de poder e os fracos mecanismos de escrutínio e prevenção de conflitos de interesse nos clubes e sociedades desportivas. Por outro lado, o facto de um país e uma liga desta dimensão darem origem ao quarto maior volume de receitas com transferências no mundo. O nosso futebol devia ser tratado de acordo com a importância económica que tem, quer ao nível das condições que lhe devem ser oferecidas, quer ao nível da correspondente exigência a que devia estar sujeito.