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Não está fácil pôr o 5G a funcionar nos aeroportos dos Estados Unidos. A ativação deveria acontecer esta quarta-feira, mas a AT&T e a Verizon, duas das principais operadoras de telecomunicações, aceitaram adiar a ativação do 5G nos aeroportos. A medida surge depois da agência norte-americana de aviação (FAA) ter mostrado, esta terça-feira, reservas em relação a interferências com os instrumentos para voar.
Quem saúda a decisão é o presidente dos Estados Unidos. Em comunicado, Joe Biden, além de agradecer aos dois operadores, acrescenta que, desde modo, evita-se perturbar o tráfego aéreo, ao mesmo tempo que se permite a ativação da imensa maioria das torres de telefone móvel para a 5G. Elemento considerado essencial para a competitividade dos EUA.
Os peritos da Casa Branca vão continuar a trabalhar com os operadores telefónicos, as transportadoras aéreas e os fabricantes de aviões, para se "alcançar uma solução permanente e funcional em torno de aeroportos-chave", assegurou Biden.

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Os dois operadores lamentam, contudo, que as autoridades tenham levado tanto tempo a reagir ao desenvolvimento do 5G, previsto pelo menos desde há dois anos.
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A FAA e as transportadoras aéreas "não foram capazes de resolver a problemática do 5G perto dos aeroportos, apesar de estar instalado de forma segura e eficaz em mais de 40 países", segundo um porta-voz da Verizon, em mensagem transmitida à AFP.
Paulo Soares, especialista em aviação civil, conta à TSF o que está em causa: "a tecnologia 5G implementada nos EUA utiliza radiofrequência na banda C", que é muito próxima das "frequências utilizadas por alguns equipamentos, nomeadamente, o rádio altímetro". Este radar, que mede a distância que separa o avião do solo, é essencial aos instrumentos de noite, nomeadamente para aterrar ou em caso de má visibilidade.
Ouça as explicações de Paulo Soares à TSF
A FAA validou o uso de certos radio altímetros, em 48 de 88 aeroportos norte-americanos, mas funcionam com restrições, pelas interferências nos instrumentos de voo.
Já esta segunda-feira dirigentes de 10 transportadoras aéreas manifestaram preocupação com a utilização do 5G e pediram às autoridades que intervenham "imediatamente". O objetivo, acrescentam, é evitar "uma importante perturbação operacional para os passageiros, os trabalhadores de transporte, as redes de abastecimento e a entrega de bens médicos essenciais".
Na Europa e no caso específico de Portugal, Paulo Soares afirma que o problema não se coloca tanto porque as bandas de frequências utilizadas são diferentes. O especialista afirma, no entanto, que os problemas podem surgir se um avião europeu for aos Estados Unidos e, assim, frequências diferentes.
Paulo Soares diz que o problema não se coloca em Portugal
Paulo Soares antecipa duas soluções, ou se mudam as bandas das frequências, ou os radio altímetros podem passar a ser construídos com alguma proteção.
Paulo Soares enumera duas soluções
Os construtores Airbus e Boeing já tinham alertado as autoridades federais dos EUA, em dezembro, para estas "potenciais interferências", dado que o país tinha, por exemplo, escolhido frequências mais próximas dos radio altímetros do que na Europa ou na Coreia do Sul.
Dez transportadoras aéreas, de pessoas e cargas, como UPS e Fedex, tinham sublinhado, na sua carta dirigida ao governo de Joe Biden, consultada pela AFP, que num dia como domingo "mais de 1100 voos e cem mil passageiros estariam sujeitos a anulações, desvios ou atrasos", devido ao desenvolvimento do 5G.