"A Europa está à beira de um choque energético como provavelmente nunca teve na sua História"

Devido ao conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o preço do petróleo pode chegar aos 140 dólares. O aviso é do engenheiro e professor universitário especializado em engenharia de petróleos, António Costa Silva. Entrevistado pelo jornalista Fernando Alves na Manhã TSF, Costa Silva afirma que Vladimir Putin usa a dependência da Europa em relação ao gás russo como uma "arma geopolítica".

António Costa Silva, engenheiro e professor universitário especializado em engenharia de petróleos, alertou, esta sexta-feira, que caso a guerra entre a Rússia e a Ucrânia se prolongue, o preço do petróleo pode chegar aos 140 dólares e, nesse sentido, é um barómetro da evolução do conflito. Entrevistado pelo jornalista Fernando Alves na Manhã TSF, Costa Silva argumenta que a Europa nunca enfrentou até agora um desafio energético desta dimensão.

"A Europa devia remover esta arma geopolítica de energia da Rússia. Como? Apostando na fachada atlântica, apostando na Península Ibérica, aproveitando toda a capacidade instalada que temos na Península Ibérica para importar gás. Temos mais de 50% dos terminais de importação de gás. As ligações energéticas da Península Ibérica com o resto da Europa não funcionam porque também a França não deixa", explica.

O especialista em engenharia de petróleos deixa um aviso: "A Europa, com este pensamento, muito narcisista, muito focada nos umbigos de cada país, está aqui à beira de ter um choque energético como provavelmente nunca teve na sua História com todas as consequências que isso pode trazer."

A partir da próxima semana, vai começar a sentir-se os efeitos desta subida do preço do petróleo em muitos alimentos, nos transportes e na energia. O preço do petróleo pode aumentar ainda mais, caso o conflito não termine.

"A perspetiva é que pode subir até 120/140 dólares se o conflito se mantiver por muito mais tempo, mas já estamos a ver também repercussões brutais no preço do gás. O preço do gás em 2021 aumentou cinco vezes e está a níveis realmente históricos e isso vai continuar a desenvolver-se, porque a Rússia é um dos grandes produtores de energia do mundo, tem uma super companhia que fornece 30% do gás à Europa, controla completamente o pipeline que é o Nord Stream 1", assinala Costa Silva, relembrando que "através do Nord Stream 1 a Alemanha recebe cerca de dois terços da energia que importa".

"A Alemanha meteu-se na boca do lobo, tem uma dependência energética atroz da Rússia, não vai ficar com muitas alternativas", considera.

No sentido da dependência da Europa em relação ao gás russo, Putin usa a energia como um instrumento político.

"Se a Rússia usar a energia como uma arma geopolítica e, atenção, que o Presidente Putin já usou em 2006 quando interrompeu os abastecimentos de gás. Em 2009, deixou países da Europa Oriental, como a Bulgária, a Roménia e outros, cerca de 22 dias, no pico do inverno, sem energia. Ele pode usar esta arma", sublinha. Segundo Costa Silva, Putin escolheu este ataque, nesta altura, "porque estamos a sair de uma pandemia".

"A falta de investimento nas estruturas de petróleo e gás durante a pandemia, quando a oferta aumentou, houve uma dissonância completa e o sistema não conseguiu responder", afirma.

Esta sexta-feira, o barril de petróleo Brent, de referência na Europa, voltou a subir na abertura do mercado e chegou aos 100 dólares, nível que atingiu no dia anterior, mas que não se consolidou no final da sessão.

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