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A invasão russa da Ucrânia a 24 de fevereiro de 2022 serviu também acordar uma aliança que muitos julgavam adormecida. No dia seguinte, Jens Soltenberg alertava que os "objetivos do Kremlin" não se limitavam à Ucrânia.
A inquietação chegou aos vizinhos Finlândia e Suécia, que mostraram o desejo de aderir à NATO. Mas a Turquia tem bloqueado. Ainda assim, a professora de relações internacionais Ana Isabel Xavier, acredita que esta pasta não deverá passar para o novo líder.
"Com o recente terramoto na Turquia, a Finlândia e a Suécia foram dos maiores doadores. Obviamente com o interesse mais do que explícito de Erdogan [Presidente da Turquia] mudar a sua posição, mas eu diria que está por semanas a cedência desta questão", assinalou.
O jornalista Miguel Laia revisita o mandato de Stoltenberg.
Já António Martins da Cruz, que representou Portugal na NATO entre 1995 e 1999, separa a questão em dois. Para o antigo embaixador a adesão da Finlândia pode acontecer até ao final do mandato de Stoltenberg, o mesmo não deve acontecer com a Suécia: "Enquanto a Turquia entender que as condições que pôs não estão cumpridas vai ser muito difícil arrancar o sim ao governo turco".
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O executivo liderado por Recep Tayyip Erdoğan tem recusado ratificar a adesão com o argumento de que a Suécia tem abrigado terroristas do Partido Curdistão dos Trabalhadores, que lutam há décadas pela separação da Turquia. Para confirmar a entrada da Suécia e Finlândia na NATO, Ancara tem imposto condições, que considera ainda não estarem satisfeitas.
O impasse pode ser, no entanto, desbloqueado depois das eleições turcas, marcadas para 14 de maio. Martins da Cruz avisa que "manda a prudência esperarmos pelo resultado para ver se a Turquia muda ou não a sua posição", já Ana Isabel Xavier antecipa que Erdogan utilize "a adesão da Finlândia e da Suécia para consumo interno, numa espécie de instrumentalização". Ainda assim a professora de relações internacionais acredita que mesmo que o impasse não seja ultrapassado até maio, "o processo deverá ser desbloqueado depois do verão", ou seja, Stoltenberg vai terminar o mandato com a dupla adesão concluída.
O norueguês deixa para o próximo secretário-geral a tónica do investimento e de resto foi o atual líder da NATO que quando entrou na organização, em 2014, persuadiu os aliados a gastarem 2% do Produto Interno Bruto em defesa.
Desde então a média de despesa dos 30 aliados tem aumentado todos os anos, mas quanto à meta definida há nove anos, apenas oito países cumprem-na. Portugal é um dos países que está fora, apesar de António Costa na Cimeira de Madrid, em 2022, ter admitido a hipótese de atingir os 2% do PIB nacional em defesa até ao final da década, mas sem qualquer compromisso.
"É óbvio que é uma meta ideal. Não podemos esquecer que os governos atravessam uma fase difícil porque a seguir à Covid-19, que provocou despesas extraordinárias, entramos numa fase inflacionária e isso dificulta a gestão do orçamento de cada um dos países", lembra António Martins da Cruz.
Um dos maiores desafios que o próximo secretário-geral será a guerra da Ucrânia, mas o antigo embaixador avisa para o que poderá seguir: "Não sabemos quando vai acabar o conflito na Ucrânia, como vai acabar, mas não podemos excluir, para além dos apoios à reconstrução do país, que não haja empenhamento em missões de manutenção de paz para que podem ser chamados países europeus, da NATO e da União Europeia."
Mas até que esse momento chegue, o sucessor de Stoltenberg terá pela frente o difícil equilíbrio de manter o apoio militar à Ucrânia e a não entrada no conflito, mas desse ponto de vista o próximo secretário-geral terá a salvaguarda de a NATO ser uma aliança defensiva e a cedência de armamento à Ucrânia não estar a ser feita pela aliança.
Ana Isabel Xavier assinala que essa tarefa tem estado a ser assegurada por "uma coligação que junta mais de 40 países, membros da NATO, mas não só, liderados pelos Estados Unidos", ou seja, a Aliança Atlântica enquanto organização não tem enviado armamento.