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Nesta altura, todos os passos mal dados podem potenciar um conflito entre a Rússia e a Ucrânia, já que o clima entre as partes é de grande tensão. "Faz uma diferença substancial porque, como sabemos, um dos cenários que estava a ser equacionado é que, caso ocorresse aqui um pretexto mínimo que fosse, poderia, de facto, suscitar a intervenção mais musculada pela Rússia", analisa a Sónia Séneca, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais.
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Essa intervenção mais agressiva pode passar, segundo a investigadora, por uma "incursão na zona leste ucraniana" ou até uma "invasão com outra envergadura". Todas as dinâmicas estão ainda a ser equacionadas e todas as hipóteses estão em cima da mesa, admite Sónia Séneca, numa altura em que na Europa os Estados estão a tentar manter aberta a "porta diplomática".
"A posição oficial russa é de que, não só não tem planos para intervir militarmente na Ucrânia, como também pretende que veja acalentadas as suas pretensões em termos de garantias de segurança", lembra a investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais. A Rússia tenta estabelecer as suas linhas vermelhas, mas um pequeno incidente pode ter um grande impacto diplomático, explica ainda à TSF Sónia Séneca. "No terreno, estes incidentes, e numa altura destas, podem obviamente extravasar o clima de tensão já crispado."
Ouça a explicação de Sónia Séneca.
Paulo Rangel, eurodeputado e membro da Comissão de Negócios Estrangeiros do Parlamento Europeu, também considera que a tensão na fronteira entre a Ucrânia e a Rússia está de tal forma elevada que qualquer incidente poderá espoletar um conflito entre o Ocidente e o regime de Moscovo. "A situação é de alta tensão, mas a existência de incidentes que possam ser uma espécie de rastilho para um conflito, para uma escalada, é o maior risco. Sejam incidentes provocados... Isso aparece na imprensa toda esta manhã, mas tem aparecido ao longo destes dias, mas até pode não ser isso."
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Confirme-se ou não o cenário de "a Rússia ensaiar um ataque, no fundo, autoinfligido, para, depois, a partir daí, ser o pretexto para avançar", a situação exige cuidado, garante Paulo Rangel. "Basta de um lado ou do outro um fanático, uma pequena unidade militar dirigida por alguém mais aguerrido ou envolvido emocionalmente, cometa um erro, e isso vai ter respostas e contrarrespostas. Pode ser o episódio que vai deflagrar o conflito."
Paulo Rangel analisa a situação geopolítica Rússia-Ucrânia.
A crise na Ucrânia é um dos temas abordados por Paulo Rangel no programa Estado do Sítio, que vai ser transmitido este sábado, a partir do meio-dia. Nesse dia, no âmbito de uma missão do Partido Popular Europeu, o eurodeputado parte para Kiev. Trata-se de uma missão, conforme aclara, com vários objetivos, no sentido de travar o início de um conflito armado e de demonstrar apoio à Ucrânia: "Ter um diálogo com as autoridades ucranianas ao mais alto nível, no sentido de lhes prestar todo o apoio na defesa da soberania, da integridade territorial e da autodeterminação do povo ucraniano, para que tenha liberdade para escolher o seu futuro, e sinalizar que a União Europeia está ao lado da Ucrânia nesta intenção agressiva da Rússia."
"Muitas missões parlamentares de vários países ou de antigos primeiros-ministros" têm o "efeito de congelar os ataques", o que significa que as visitas diplomáticas ajudam a evitar uma precipitação do conflito armado, sustenta o eurodeputado.