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A principal especialista conselheira da Agência de Saúde e Segurança do Reino Unido alertou, nesta sexta-feira, que a nova variante identificada no sul de África é "a mais preocupante de todas as já detetadas", resultando em níveis de transmissão que já não eram registados desde o início da pandemia.
Susan Hopkins, citada pelo jornal The Guardian, refere que o valor do Rt da variante B.1.1.529 em Gauteng, uma província na África do Sul onde a estirpe foi encontrada, já se fixou em 2. Quando o número do Rt excede 1, é expectável que uma epidemia cresça exponencialmente.
Norman Swan, o autor de Coronacast, na ABC Radio, jornalista de Saúde e formado em medicina, afirma, em declarações à TSF, que é ainda "cedo" para saber se esta estirpe é a que mais ameaças oferece desde o início da pandemia. No entanto, reconhece que esta variante se sobrepôs "muito rapidamente" à delta na África do Sul. "No passado, outras variantes pareciam potencialmente capazes de se recodificarem para resistirem à proteção das vacinas, mas é possível que esta consiga."
Na África do Sul, contudo, este problema tem agravantes, já que "muitos milhares de cidadãos têm VIH e não são tratados". Esta é a situação, resume: "Os imunodeprimidos conseguem desenvolver mutações de forma ainda mais rápida e com resistência aos antibióticos."
Norman Swan salienta, contudo, que para já não deve haver "pânico, especialmente em Portugal, onde a taxa de vacinação é muito alta".
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"Demoraremos algum tempo a perceber o quão grave é esta mutação. Enquanto isso, quem puder deve tomar uma dose de reforço da vacina."
Estas preocupações são também verbalizadas pela Comissão Europeia. No espaço europeu, já foi anunciada a intenção de impedir os voos originários dessa região africana. Inglaterra e Escócia foram dos primeiros Estados a adiantar que suspenderão viagens a partir de seis países no sul africano.
Em menos de duas semanas, a África do Sul passou de uma situação de grande abrandamento da pandemia, com muito poucos casos diários a serem registados, para um cenário com mais do dobro das infeções. "Não víamos níveis de transmissão como estes desde o início da pandemia, por causa de todas as medidas de mitigação que entretanto tomámos", admite Susan Hopkins.
Uma transmissibilidade tão alta desta variante pode ser um fator que favoreça a fuga às respostas imunitárias que as populações entretanto desenvolveram, acrescenta a especialista. Susan Hopkins também se diz nervosa por ainda nenhum caso ter sido detetado no Reino Unido e por nenhuma das 30 mutações da variante B.1.1.529 ser semelhante às alterações assinaladas na estirpe alfa, o que significa que facilmente será detetável com a realização de muitos testes PCR, embora ainda não tenha aparecido.
A conselheira da Agência de Saúde e Segurança do Reino Unido acredita que algumas das mutações desta nova variante têm potencial para alterar a resposta imunitária, como já está a ser constatado na África do Sul, onde as pessoas - mesmo com uma taxa de vacinação baixa - já criaram algumas defesas em vagas anteriores. Só o tempo o dirá, bem como estudos laboratoriais e epidemiológicos, diz a especialista britânica. Apesar de as autoridades sul-africanas já estarem a fornecer informações, os investigadores europeus levarão semanas a perceber os detalhes desta nova estirpe.
África do Sul, Namíbia, Lesoto, Botswana, Suazilândia e Zimbabwe foram colocados na lista vermelha de viagens da Inglaterra na quinta-feira e os voos estão proibidos a partir desta sexta-feira. Ursula Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, escreveu no Twitter, nesta sexta-feira, que também iria propor a suspensão de viagens da região da África Austral.
The @EU_Commission will propose, in close coordination with Member States, to activate the emergency brake to stop air travel from the southern African region due to the variant of concern B.1.1.529.
* Atualizado às 12h00