Cabo Delgado
ataques em Cabo Delgado

Cabo Delgado é "a pior guerra" desde a independência de Moçambique

A opinião é do porta-voz da diocese de Pemba, a capital de Cabo Delgado. Passam, esta quinta-feira, três meses sobre o ataque à vila de Palma e a "situação não está controlada".

Durante 16 anos, o padre Kwiriwi Fonseca viveu no meio da guerra.

O actual porta-voz da diocese de Pemba recorda que cresceu durante a guerra civil em Moçambique, justificando assim, o facto de não ter medo perante a ameaça terrorista contra a capital de Cabo Delgado.

Três meses depois do violento ataque à vila de Palma, o risco de uma nova ofensiva já levou cerca de 10 religiosas a abandonarem a cidade de Pemba, ainda que o Administrador Apostólico, Juliasse Sandramo, tenha pedido aos missionários que "estejam vigilantes, mas não em pânico", conta Kwiriwi Fonseca.

Em declarações à TSF, o porta-voz da diocese de Pemba relata que "as aldeias continuam a sofrer ataques", embora sem a dimensão que foi registada na vila de Palma.

O jornalista moçambicano Hizidine Achá denuncia "situações de raptos, assassinatos", tiroteios e até uma perseguição nas matas. "A situação não está controlada", destaca o jornalista a partir de Pemba, onde o afluxo de deslocados tem aumentado nas últimas semanas. "Em todo o lado, há medo", afirma Hizidine Achá, que recorda os tiros disparados recentemente, por dois grupos de jovens que não respeitaram as ordens das forças de segurança.

A Igreja católica estima que a crise aberta pelo ataque a Palma tenha levado à deslocação de 750 mil pessoas, que "pedem comida, abrigo, uniformes escolares e material de higiene", descreve o padre Kwiriwi Fonseca. Os deslocados mais recentes sentem-se esquecidos, porque "a ajuda é insuficiente", para responder a uma crise humanitária que ninguém esperava.

Os cálculos indicavam que Cabo Delgado necessitaria de "cerca 300 milhões de dólares, mas só conseguiram 25 milhões de dólares".

O porta-voz da diocese de Pemba considera que "esta é a pior guerra" desde a independência de Moçambique, por "não se saber qual a motivação dos ataques. É uma guerra que não tem rosto e se tiver uma conexão estrangeira, ainda pior".

Moçambique celebra 46 anos como país independente, esta sexta-feira, e o padre Kwiriwi Fonseca confessa que "o maior presente seria buscar soluções para repor a paz e tranquilidade na região e em todo o país. O povo está cansado da guerra", realça, desejando que os moçambicanos possam continuar a "sonhar e a lutar contra a pobreza absoluta, que já se via, mas que agora é uma miséria total."

Kwiriwi Fonseca sonha com a paz até ao final do ano, mas, 46 anos depois, a paz e o desenvolvimento ainda são uma miragem no norte de Moçambique.

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