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Bruno Neto trabalhava para uma organização não-governamental italiana. Regressou a Portugal há cerca de duas semanas e, com os taliban de volta ao poder do Afeganistão, o português revela à TSF que se sentiu sempre abandonado pelas autoridades de Portugal.
Trabalha em ajuda humanitária há algum tempo e está bem habituado a ter de sair de territórios difíceis em pouco tempo. Contudo, por uma questão de registo, contactou as autoridades portuguesas para dar sinal de vida.
"O site do Ministério dos Negócios Estrangeiros ligado à parte das comunidades, o portal das comunidades, dizia que a embaixada que lidava com o Afeganistão era da Turquia. Enviei um mail para a Turquia mas disseram-me que afinal era o Paquistão", começa por explicar, dizendo que quando contactou a embaixada de Portugal no Paquistão foi-lhe dado um número de telefone para emergências, para o qual deveria enviar uma mensagem antes de ligar.
Ouça aqui as explicações de Bruno Neto à TSF
Com o avançar dos taliban, os trabalhadores humanitários começaram a perceber que seria mesmo preciso preparar a saída.
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"A partir do início de julho todas as embaixadas das nacionalidades dos meus colegas de trabalho, inclusivamente, Quénia, Uganda, Irão, Suécia, Itália, diariamente faziam ligações e perguntavam como é que estava a situação, o que era necessário, os possíveis planos para evacuação", afirma.
Acabou por sair há cerca de duas semanas, mas não sem antes contactar o Ministério dos Negócios Estrangeiros.
"No dia 20 de julho enviei um email para o gabinete do senhor ministro Augusto Santos Silva e onde disse que era um pouco estranho eu não ter recebido nenhuma comunicação a perguntar se estava vivo ou se precisava de alguma coisa. No dia 21, recebo a informação a dizer que entretanto a embaixada de Portugal irá entrar em contacto comigo", explica. "Foi ontem. Como toda gente viu nas televisões é o caos absoluto e qualquer evacuação tem de ser feita antes", admite.
Bruno Neto lamenta a sensação de abandono por parte do Estado português. "Estes seguimentos são sempre um bocadinho pobres e, com todo o respeito que tenho pelas instituições e Estado português, não são dignas de um Estado tão importante", refere. Bruno planeava regressar esta semana, mas por agora nada é certo neste novo Afeganistão.
Em declarações à TSF, a secretária de Estado das Comunidades Portuguesas, afirma que ainda há portugueses no Afeganistão. Berta Nunes refere que 12 dos portugueses que estavam a trabalhar no país já conseguiram sair. "Estavam 16 portugueses no Afeganistão, estão todos identificados. A maioria já saiu do país."

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