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"Dos Santos" é o apelido que responde ao telefone e que adota na política. A porta de entrada para este mundo apareceu por acaso, aberta por um amigo, quando já frequentava o curso de direito, em Colónia. Catarina dos Santos não queria "só estudar", e inscrever-se no partido de Angela Merkel, a CDU, pareceu-lhe um bom passatempo. Agora é um "dream job", um emprego de sonho, descreveu a própria.
Ouça a entrevista.
De Portugal à Alemanha
Nasceu em Lisboa, mas cresceu na cidade de Eschweiler, perto de Aachen, no estado federado mais populoso da Alemanha, a Renânia do Norte-Vestefália. A mãe é portuguesa, o pai alemão. Catarina tem parte da família em Lisboa e no Algarve, e visita o país com frequência. Mas desde pequena sonhava com uma estadia mais prolongada, que fosse além das férias.
"Foi um grande desafio, e um grande desejo meu poder dizer que não nasci apenas lá, também vivi lá, e sei como é a vida lá", contou à TSF, revelando que conseguiu um estágio de três meses na Câmara do Comércio e Indústria Luso-Alemã, em Lisboa.
"Foi um tempo ótimo, com boa comida, bom trabalho, e pessoas muito simpáticas. Gostei muito de estar lá", confessou.
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A família tem acompanhado com atenção todo o percurso e não podia estar mais feliz, mas fazer política em Portugal não é um objetivo.

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Do "hobby" ao "dream job"
"Sempre gostei de debater e discutir, mas só me tornei politicamente ativa no início dos meus estudos", recordou Catarina. Tinha 20 anos quando foi desafiada por um amigo a assistir a uma reunião, e nunca mais saiu.
"O facto de se ter tornado uma profissão foi uma feliz coincidência", concluiu. Foi o surgir inesperado de um "emprego de sonho".
Ao lado do edifício imponente do Parlamento Federal alemão, vai descrevendo com entusiasmo os primeiros tempos num novo gabinete. Divide-se entre Eschweiler e Berlim, uma semana em cada lado, mas os quase 600 km de distância não arrefecem a vontade de representar o seu círculo eleitoral, mas também os jovens e a comunidade portuguesa.
"A população local e as suas preocupações são a minha principal prioridade. A pandemia também vai ocupar muito do nosso tempo. Além disso, irei trabalhar nos comités digital e europeu", apontou a deputada de 27 anos, que escolheu a CDU como seu partido e nunca pensou em mudar.
"Sempre gostei da perspetiva holística da CDU, de fazer política para todos e não apenas para um grupo da sociedade", explicou, acrescentando que Angela Merkel, que governou a Alemanha durante 16 anos, também contribuiu para a sua inscrição no partido.
"Estamos a sentir falta de Merkel"
Catarina dos Santos começa o seu percurso no Bundestag depois de uma eleição que deu o pior resultado à CDU. De Governo a oposição, além de perderem o escrutínio, em setembro, os conservadores perderam também o seu líder, Armin Laschet, que decidiu afastar-se do cargo. É uma etapa de recomeços para o partido de Angela Merkel.
"É um grande desafio para o partido, sem dúvida. Mas para mim não há grande diferença porque eu não conheço o trabalho do Governo. Nos últimos 16 anos não era deputada. O início é para todos. Para muitos dos deputados também é uma situação nova", revelou.
Catarina dos Santos acredita que o país já sente a falta da antiga chanceler. Ainda assim, sublinha que "deve ser dado ao novo Governo a possibilidade de mostrar o que pode fazer."
Com um Executivo federal formado, pela primeira vez, por três partidos - o Partido Social Democrata (SPD), os Verdes, e os liberais do FDP - é preciso dar tempo ao tempo.
"Vamos medi-los nos seus atos", realçou Catarina, que faz parte do conjunto de 197 deputados eleitos pela CDU para esta legislatura.