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Os jihadistas que atuam no norte de Moçambique estão a raptar rapazes na zona de Cabo Delgado. Segundo um comunicado da Human Rights Watch (HRW), as crianças, muitas delas com menos de 12 anos, são treinadas em bases na província de Cabo Delgado e depois forçadas ao combater contra as forças do Governo.
Vários pais disseram que viram os filhos empunharem armas quando eles voltaram com outros combatentes para invadir as aldeias onde moravam.
A Human Rights Watch conta o caso de um jovem raptado no ano passado. Na altura, os combatentes do Al-Shabad ainda pensaram em decapitá-lo, mas acabaram por levá-lo de olhos vendados para uma base de treino na floresta.
O jovem, de 18 anos, acabou por conseguir fugir, mas vive agora com medo de voltar a ser capturado.
"Usar crianças para combater é cruel, ilegal e nunca deveria ter lugar", disse Mausi Segun, diretor da HRW para África, acrescentando: "O Al-Shebab de Moçambique deve parar imediatamente de recrutar crianças e libertar todas as crianças nas suas fileiras".
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As denúncias de sequestro de crianças em Cabo Delgado não são novas. A organização humanitária Save The Children estima que só no ano passado o Daesh sequestrou pelo menos 51 crianças, a maioria delas raparigas.
Também o Observatório do Meio Rural avisou, há poucas semanas, que as fileiras jihadistas estavam engrossadas por crianças raptadas.
Ainda assim, a evolução da situação em Cabo Delgado tem sido "muito positiva", afirmou na terça-feira à agência Lusa a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros. Contudo, o otimismo da ministra é de novo abalado pelas notícias que chegam de Cabo Delgado.
O Protocolo Facultativo das Nações Unidas à Convenção sobre os Direitos da Criança, relativo ao envolvimento de crianças em conflitos armados, que Moçambique ratificou em 2004, proíbe grupos armados não estatais de recrutar crianças menores de 18 anos.
O Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional classifica como crime de guerra o recrutamento, alistamento ou utilização ativa de crianças com menos de 15 anos de idade em hostilidades ativas durante conflitos armados.
"O uso crescente de crianças como combatentes pelo Al-Shebab é o último capítulo horripilante da violência em Cabo Delgado", disse Segun. "As autoridades moçambicanas devem tomar medidas urgentes para proteger as crianças, para que permaneçam com as suas famílias e na escola, e não sejam exploradas como armas de guerra".
A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.
O conflito já provocou mais de 3100 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas.
Desde julho, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu aumentar a segurança, recuperando várias zonas onde havia presença de rebeldes, nomeadamente a vila de Mocímboa da Praia, que estava ocupada desde agosto de 2020.