Crise com migrantes. Espanha diz querer construir pontes com Marrocos sem alimentar a tensão

Madrid continua, no entanto, a afirmar que vai ser firme "na defesa da integridade territorial, das fronteiras do país e da segurança e ordem".

A ministra espanhola dos Negócios Estrangeiros assegurou esta quarta-feira que Madrid não vai "alimentar a escalada" da tensão com Marrocos, mas sim "construir pontes" e ser "firme na defesa da sua integridade territorial e das suas fronteiras".

Arancha González Laya reagiu desta forma no meio de uma crise diplomática com Marrocos, após a chegada de mais de oito mil imigrantes nos últimos dois dias através da fronteira com a cidade espanhola de Ceuta, no Norte de África.

A maior parte dos observadores defende que a situação entre os dois países foi provocada depois de o Governo de Madrid ter permitido que o líder da Frente Polisario, Brahim Ghali, fosse tratado num hospital em Espanha.

Em declarações à rádio pública espanhola (RNE), González Laya salientou que, se a Espanha acolheu Ghali, num hospital em Logrono (Norte do país), foi devido à sua tradição humanitária, sem pretender "qualquer agressão a ninguém", apesar de reconhecer estar consciente de que o conflito do Saara Ocidental é uma questão "de enorme sensibilidade para Marrocos".

Esta é uma posição que foi explicada "várias vezes e através de múltiplos canais" a Marrocos; "a Espanha tem uma tradição humanitária e tem de ser capaz de a exercer quando o considerar necessário", sublinhou a responsável pela diplomacia espanhola.

"Não provocámos esta escalada, nem queremos alimentá-la, nem vamos alimentá-la, temos de ultrapassar esta situação", garantiu González Laya antes de reiterar: "Nunca lhe demos o caráter de agressão bilateral."

A responsável governamental sublinhou que Madrid vai ser firme "na defesa da integridade territorial, das fronteiras do país e da segurança e ordem".

"Estes são momentos para manter a cabeça fria", disse a ministra, que salientou tratar-se de "fazer a gestão de uma situação muito complicada com um vizinho que a Espanha aprecia, com o qual quer manter as melhores relações" e com o qual trabalha há muito tempo para assegurar que a UE (União Europeia) olha para o Sul e se preocupe com os seus vizinhos do Sul.

O Governo espanhol concedeu na terça-feira a Marrocos 30 milhões de euros para reforçar o controlo fronteiriço, um montante que já estava orçamentado.

González Laya recordou que a questão das migrações é uma questão de "enorme sensibilidade" para a UE e que quando Marrocos responde permitindo a entrada em massa de pessoas em Espanha "não só tem a Espanha do outro lado, como tem a UE, que tem tido muitos problemas de imigração durante muitos anos e ontem [terça-feira] deu uma resposta clara".

A ministra afirmou que existem "linhas abertas através de diferentes canais" que o Governo manterá "tão abertas quanto possível" com Marrocos.

Finalmente, González Laya também minimizou o facto de ainda esta terça-feira o secretário de Estado norte-americano, Anthony Blinken, ter chamado as autoridades marroquinas supostamente para falar sobre Israel e os confrontos em Gaza.

"Não vou fazer o julgamento sobre a posição de um aliado muito próximo de Espanha como são os Estados Unidos", disse.

Ceuta e Melilla, as únicas fronteiras terrestres da União Europeia com África, são regularmente palco de tentativas de entrada de migrantes, mas a maré humana de segunda-feira não tem precedentes.

A origem desta última crise entre Espanha e Marrocos está relacionada com a permanência em Madrid do secretário-geral da Frente Polisário, Brahim Ghali, por motivos de saúde.

A Frente Polisário, considerada como um grupo terrorista por Rabat, reivindica o direito à autodeterminação no Saara Ocidental, território que foi colónia espanhola e posteriormente ocupado pelo Marrocos.

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