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Desde que foi fundada, em 1949, a NATO já teve 13 secretários-gerais. Foram todos homens e com várias semelhanças no currículo. Ana Isabel Xavier, professora de relações internacionais, lembra que o secretário-geral da Aliança Atlântica "é sempre alguém que tem uma experiência política sólida no seu país de origem, que já tenha desempenhado as funções de ministro da defesa, dos negócios estrangeiros ou até de primeiro-ministro". É o caso do atual líder da organização, Jens Soltenberg, que chefiou o governo norueguês por duas ocasiões, entre 2000 e 2001, e entre 2005 e 2013.
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Tendo em conta a história, para liderar a organização militar de 30 países pede-se alguém com "um perfil discreto" e de um país "ativo na NATO, que não seja diretamente confrontacional", que isto dizer, acredita Ana Isabel Xavier, que "é pouco provável que a próxima liderança venha de um país de leste que faça fronteira direta com a Federação Russa".
O jornalista Miguel Laia revisita o mandato de Stoltenberg.
De resto, Stoltenberg fez história na NATO, desde logo por ser o primeiro secretário-geral a representar um país, no caso a Noruega, que partilha a vizinhança com a Rússia. Se olharmos para os antigos responsáveis da organização atlântica, vieram sempre de países mais centrais na Europa: Reino Unido e Países Baixos já tiveram três líderes cada, a Bélgica dois e só tiverem um líder, além de agora a Noruega, Itália, Alemanha, Espanha e Dinamarca.
Pode haver uma repetição de país no comando da NATO?
De onde poderá vir o próximo secretário-geral? O jornal europeu "Político" tem apontado vários nomes ao cargo, entre os quais, o de Ben Wallace. O secretário da defesa britânico, segundo a publicação, tem sido dos que mais se tem movimentado a apresentar-se aos aliados.
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"Pode ser um inglês, já que não é membro da União Europeia", começa por antecipar António Martins da Cruz, que representou Portugal na NATO entre 1995 e 1999. Vários analistas internacionais têm também feito esta aposta, porque, caso se confirme, daria ao Reino Unido um poder numa instituição internacional, que perdeu depois de ter abandonado o clube dos 27 na sequência do Brexit.
Mas as apostas do antigo embaixador vão mais longe: "Pode ser de um pequeno país, pode ser um canadiano". No outro lado do atlântico, tem-se vaticinado o nome de Chrystia Freeland, vice-primeira ministra do Canadá e responsável pela pasta das finanças do governo de Justin Tredau. Mas não passam de especulações, à semelhança do que acontece com a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, recém reconduzida no cargo, que também tem sido cogitada para o mais alto cargo da NATO.
Caso se confirmem uma destas opções, seria a primeira vez que a Aliança Atlântica teria uma mulher aos comandos. Várias publicações internacionais têm atirado a opção Angela Markel. A favor da antiga chanceler alemã, sublinha Ana Isabel Xavier, está o facto da Alemanha, por causa da Guerra na Ucrânia, "estar a investir cada vez mais em defesa, o que para os aliados é visto como bastante importante". Além disso, a especialista destaca que "é uma figura que reúne consenso". Resta saber se Merkel está disponível para voltar à vida política ativa.
O "Político" também já apontou para líder Ursula von der Leyen, a atual presidente da Comissão Europeia. Martins da Cruz considera pouco provável, já que a próxima liderança não deve vir da Alemanha nem da França, uma vez que estes dois países "têm uma influência determinante nas decisões da União Europeia" e importa "alcançar um certo equilíbrio" entre as organizações.
Von der Leyen, recorda Ana Isabel Xavier, ainda estará como presidente da Comissão Europeia até setembro de 2024, ou seja, não deverá sair do cargo antes para uma corrida à liderança da NATO.
Países do Sul são forte hipótese
A professora de relações internacionais acredita que "este é o momento para que as lideranças dos países do Sul tenham um protagonismo maior, até como forma de incentivo para um maior contributo em investimento em defesa".
Uma vez mais, o "Político" já mencionou o nome de Pedro Sánchez, mas o primeiro-ministro espanhol "estará a preparar as eleições do segundo semestre de 2023" e Ana Isabel Xavier não acredita que deixe Madrid para seguir para Bruxelas: "Ao que tudo indica será recandidato e deverá continuar a liderar o governo espanhol."
E Portugal pode ter uma palavra a dizer? "Até agora não ouvi falar na possibilidade de um candidato português, mas nunca é de excluir, até porque pode ser necessário à última aparecer um candidato", coloca em hipótese Martins da Cruz, recordando que já aconteceu com Durão Barroso, quando o então primeiro-ministro português rumou para Bruxelas, para liderar a Comissão Europeia.
"Que Portugal tem políticos com perfil para serem secretário-geral da NATO, disso não tenho a mínima dúvida", acrescenta, sem querer comprometer-se com qualquer nome.
Estados Unidos têm a "última palavra"
Questionado sobre se o próximo líder da Aliança Atlântica pode vir dos Estados Unidos, o antigo embaixador afirma que "a tradição" não aponta nesse sentido, porque os norte-americanos "reservam para si o lugar de comandante supremo das forças da NATO na Europa".
Seja quem for, o secretário-geral da organização não é escolhido por votação, mas sim por consenso entre os aliados. E nesse processo há uma certeza, como vinca Martins da Cruz: "Será escolhido para secretário-geral quem os Estados Unidos quiserem. Não será escolhido quem os Estados Unidos não quiserem."
"Os Estados Unidos são sempre mais difíceis de convencer", afirma Ana Isabel Xavier. Certo é que os países interessados, já estarão a movimentar-se nos corredores diplomáticos, a tentar, desde logo, convencer Washington.