"Crimes de guerra." Portuguesa que trabalhou no TPI acredita que Putin terá de responder na Justiça

Anabela Alves, jurista portuguesa que trabalhou no Tribunal Penal Internacional, não tem dúvidas que os russos estão a cometer crimes de guerra ao bombardear alvos civis na Ucrânia. Ouvida pela TSF, considera que Vladimir Putin vai responder na Justiça, e que a força à volta dele "vai enfraquecer".

Depois do Tribunal Penal Internacional (TPI) ter anunciado que está a recolher provas sobre a existência de crimes de guerra e crimes contra a Humanidade cometidos pelos russos na Ucrânia, Anabela Alves, jurista portuguesa que trabalhou no TPI, em Haia, afirma, sem margem para dúvidas, que os russos estão a cometer crimes de guerra porque estão a bombardear alvos civis.

"Já se vê os crimes a serem cometidos. O facto de estarem, deliberadamente, a bombardear hospitais é um crime de guerra e, portanto, viola o direito internacional humanitário. Pelos relatórios que estão a sair da Ucrânia, eles estão deliberadamente não só a bombardear escolas e jardins-de-infância, mas também estão a marcar os telhados de zonas residenciais, onde sabem que há civis. Portanto, eles estão deliberadamente a cometer crimes de guerra", afirma, em declarações à TSF.

A jurista portuguesa, com mais de 20 anos de trabalho na área do Direito Penal Internacional, confia que, mais ou cedo ou mais tarde, Vladimir Putin vai ter de responder sobre o que se está a passar.

"A Justiça pode demorar um bocadinho, mas acaba por vencer. Eu acredito assim e sempre acreditei assim. São mais de 20 anos a trabalhar nesta área. A força que ele tem à volta dele e que lhe dá este impulso de homem louco vai enfraquecer", garante.

Neste momento em que está em curso a guerra na Ucrânia, Anabela Alves recorda um outro caso, que envolveu o julgamento, em Haia, de Slobodan Milosevic. A jurista portuguesa esteve frente a frente com o antigo presidente da Sérvia e ainda hoje é difícil recordar esses momentos.

"É uma pessoa, como o Putin, sem empatia nenhuma, sem Humanidade nenhuma", diz, sublinhando, no entanto, que "foi surpreendente".

"Ele era um homem extremamente inteligente, tanto que ele estava preparado na sala de audiência, ele conhecia cada vítima e cada testemunho. Para mim, ainda é complexo. Como é que uma pessoa aparentemente normal consegue cometer tamanha monstruosidade e não ter empatia pelas crianças, mulheres e homens."

O procurador-geral do TPI revelou, esta quinta-feira, que já iniciou a recolha de provas sobre alegados "crimes de guerra" e "crimes contra a humanidade" na Ucrânia depois de receber informações por parte de 39 países, incluindo Portugal.

Karim Khan explicou, em comunicado, que 39 países encaminharam para o TPI informações sobre a situação na Ucrânia.

"Estas comunicações permitem ao meu gabinete prosseguir com a abertura de uma investigação sobre a situação na Ucrânia a partir de 21 de novembro de 2013", pode ler-se no comunicado divulgado no site oficial do TPI.

Karim Khan esclareceu que estas comunicações abrangem "quaisquer alegações passadas e presentes de crimes de guerra, crimes contra a humanidade ou genocídio cometidos em qualquer parte do território da Ucrânia por qualquer pessoa".

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(Notícia atualizada às 15h29)

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