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Um total de 35 corpos foram encontrados carbonizados na noite de domingo na localidade de Ngarbuh, região nordeste dos Camarões, segundo testemunhas e fontes militares citadas esta segunda-feira pelas agências noticiosas.
"Estes atos aconteceram na noite de sexta-feira para sábado depois de confrontos entre homens armados não identificados", explicou um habitante da localidade, Timothy Ngwein, citado pela agência espanhola EFE. A mesma testemunha avançou que os corpos são na maioria de mulheres e crianças.
Fontes militares, que falaram à EFE sobre condição de anonimato, adiantaram que se tratou de um ataque de retaliação de um dos grupos separatistas anglófonos, que atuam no nordeste do país. "O alvo foram 14 famílias diferentes, acusadas de colaborar com o Exército camaronês", adiantaram.
O chefe das forças de defesa camaronesas, general René Claude Meka, citado pela Rádio Televisão dos Camarões, negou que as suas tropas tenham sido responsáveis pelas atrocidades e apontou diretamente aos separatistas.
No entanto, o ataque não foi ainda reivindicado por qualquer grupo separatista.
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A crise nas regiões anglófonas começou em 2016 com protestos pacíficos e reclamações sobre o uso mais igualitário do inglês nos tribunais e escolas e recrudesceu em finais de 2017.
Mais de 80% da população dos Camarões é francófona.
Já este ano, depois de o exército ter reprimido com violência os protestos em grande escala a celebrar a independência simbólica das regiões anglófonas, numerosos grupos separatistas começaram a exigir, com recurso à luta armada, mais direitos.
O conflito nestas regiões, em que vivem três milhões de pessoas, já causou três mil mortos, segundo o International Crisis Group, e mais de 530 mil deslocados, segundo o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários das Nações Unidas.
No seu relatório mundial de 2020, a organização Human Rights Watch acusou as duas partes, as tropas governamentais e os separatistas, de graves violações de direitos humanos.
Uma acusação rejeitada pelo porta-voz do Governo dos Camarões, Réné Emmanuel Sadi, que sustentou que o "exército camaronês não podia atacar os civis que está a proteger dos grupos armados".
Em outubro, o diálogo nacional convocado no país para tentar acalmar as tensões entre Governo e separatistas anglófonos terminou com uma recomendação para que seja criado um estatuto especial para as duas regiões do país onde se fala inglês.
O Parlamento aprovou em finais de dezembro legislação com um regime especial que estabelece, entre outros aspetos, a participação das populações destas regiões no desenvolvimento de políticas nacionais de educação e justiça em inglês.
Os Camarões foram uma colónia britânica e francesa até 1960, quando se tornaram independentes das duas potências e instauraram um estado federal, que durou até à realização de um referendo em 1972, que deu luz verde à unificação do país.