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Primeiro a França, depois a Alemanha e a Itália e a fechar. Estes são os três países da União Europeia que mais armas exportaram para a Rússia desde 2014, ano em que entrou em vigor um embargo que proíbe a venda destes produtos à Rússia.
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O jornal Público cita esta quinta-feira uma análise do Investigate Europe que revela que, até ao último ano, os russos compraram mísseis, bombas, torpedos, navios e carros de assalto a pelo menos dez Estados-membros, produtos no valor de 346 milhões de euros que caem sob o rótulo de "equipamento militar".
O embargo imposto ao regime de Putin em 2014, após a invasão da Crimeia pela Rússia, estabelece que "é proibida a venda, fornecimento, transferência ou exportação direta ou indireta de armas e material conexo de todos os tipos, incluindo armas e munições, veículos e equipamento militar, equipamento paramilitar e respetivas peças sobressalentes, para a Rússia por nacionais dos Estados-membros ou a partir de territórios dos Estados-membros ou utilizando navios ou aviões que usem a sua bandeira, quer sejam ou não originários dos seus territórios".
O texto foi, no entanto, contornado devido a um pormenor na lei: esta não se aplica a contratos ou negociações em curso realizadas antes de 1 de agosto de 2014 nem a "peças sobressalentes e serviços necessários para a manutenção e segurança das capacidades existentes". O Grupo de Trabalho sobre Exportação de Armas Convencionais do Conselho da UE (COARM), que agrega os dados dos 27 sobre estas exportações, esclarece que os dados encontrados pelo Investigate Europe "devem ser abrangidos por esta isenção". Certo é que, desde 2014, foram emitidas mais de mil licenças para exportação para a Rússia, tendo sido recusadas apenas cem.

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O site de notícias Disclose revelou, esta segunda-feira, que a França vendeu à Federação Russa material militar entre 2015 e 2020 alegando com o cumprimento de contratos anteriores. "A França cumpriu pelo menos 76 licenças de exportação de material de guerra à Federação Russa desde 2015", revelava aquele meio, num total de negócios que atingiu os "152 milhões de euros" pagos às empresas Safran e Thales.
Segundo a Investigate Europe, o país foi responsável por 44% das vendas europeias à Rússia, ao exportar "bombas, foguetes, torpedos, mísseis, cargas explosivas", armas letais, equipamentos de imagem, aviões e componentes e ainda drones. A estes juntam-se câmaras de imagem térmica para tanques, sistemas de navegação e detetores de infravermelhos. Entre 2014 e 15, os franceses vendiam mesmo "agentes químicos ou biológicos tóxicos, agentes antimotim e substâncias radioativas" à Rússia.
A seguir à França, surge a Alemanha, que segundo o consórcio, exportou 121,8 milhões de euros para a Rússia, representando 35% do total. Entre o material estão espingardas, navios quebra-gelo e veículos de "proteção especial".
O jornalista David Alvito resume os dados desta investigação.
A Itália fecha o top 3 de exportadores, com vendas no valor de 22 milhões de euros. O primeiro contrato assinalável foi assinado em 2015, quando o Governo de Matteo Renzi autorizou uma venda de veículos terrestres da Iveco, num negócio que devia ter sido de 25 milhões de euros. Entretanto, um jornalista do canal de televisão La7 deparou-se com estes veículos - modelo Lince - nos confrontos na Ucrânia.
Os negócios italianos diminuíram de ritmo a partir de 2015, mas ganharam recentemente novo fulgor: entre janeiro e novembro de 2021 foram enviados para a Rússia 21,9 milhões de euros em "armas e munições".
A lista de Estados-membros que venderam à Rússia é fechada por Áustria, Bulgária, República Checa, Croácia, Finlândia, Eslováquia e Espanha, mas com quantidades menores. Portugal não faz parte deste grupo.
A Rússia, por seu lado, não surge só como importadora: nos últimos oito anos, foi o segundo maior comprador de armas à Ucrânia, que agora invadiu.