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Bruno Neto é coordenador de uma ONG italiana Inter SOS, trabalha no Afeganistão e conhece bem a realidade do país. É sem surpresa que o português recebe a notícia da transição de poder no país, porque, na prática, os talibã já dominavam a maior parte do território afegão.
Pelas notícias que chegam do Afeganistão, ao minuto, a transição do poder está cada vez mais consolidada, diz Bruno Neto, que saiu do país há duas semanas, mas que pretende voltar assim que a situação acalmar.
"Quando eu saí, os talibã já controlavam mais ou menos 85% de todo o território, ou seja, eles já estavam a funcionar como um governo sombra. Por exemplo, se nós estamos a trabalhar num território que já está controlado por eles, eles já têm o diretor provincial de saúde, já têm o diretor provincial de educação, já têm toda a máquina a trabalhar, porque eles continuaram a gerir", sustenta.
Bruno Neto explica que a maioria da população, principalmente nas zonais rurais, ficou satisfeita com a tomada do poder pelos talibã porque muitos já não acreditavam no governo em funções: "Depois de 20 anos de intervenção da NATO, muitas das pessoas estão contentes. Quando eu recebi as primeiras fotografias da ocupação, da chegada dos talibã ao palácio do governador está lá muita gente, muito povo. Havia muita corrupção e as pessoas, estando numa pobreza extrema e vendo uma oligarquia que comanda o país, foram pela alternativa. Claro que há muita gente que não está nada contente e essa será a população mais urbana. Agora, nas populações mais rurais as pessoas entregaram o poder, porque muitas delas já não estavam a acreditar neste governo."
Quanto ao futuro, e apesar das promessas dos talibã, Bruno Neto não tem grandes esperanças.
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"Gostava de ter alguma esperança, gostava de acreditar naquilo que dizem as comunicações oficiais dos talibã (que é um Estado que vai respeitar os direitos humanos, um Estado que vai respeitar as mulheres segundo as permissões que estão no Corão). Gostava de ter esperança, mas é complicado", remata.