Governo de Maputo sabia que vila de Palma ia ser atacada e nada fez, acusa ativista

Ataque à vila de Palma reivindicado pelo autoproclamado Estado Islâmico que provocou centenas de mortes podia ter sido evitado, afirma Jasmine Opperman.

O número de deslocados e desaparecidos depois dos recentes ataques à vila de Palma, na província moçambicana de Cabo Delgado, deve ser muito maior do que o estimado pelas organizações humanitárias internacionais.

O alerta é da ativista Jasmine Opperman, investigadora do Observatório Cabo Ligado, que acompanha o conflito armado desde o seu início, há três anos. "É uma tragédia, é um massacre", lamenta, em declarações à TSF.

Várias organizações não-governamentais dão conta de três mil deslocados e 800 desaparecidos, além de dezenas de mortos, "números conservadores", considera Jasmine Opperman. Terão de ser "pelo menos 40 mil" as pessoas afetadas pela violência armada.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo Palma, junto à fronteira com a Tanzânia. Jasmine Opperman denuncia que o governo de Maputo foi avisado, mas nada fez para evitar o ataque.

"O ataque podia ter sido prevenido. Os serviços de informação avisaram o governo moçambicano e as embaixadas estrangeiras três dias antes do ataque. Porque é que não se fez nada? Não há indicação de que [o aviso] tenha sido levado a sério."

A ativista e investigadora alerta que se a ajuda internacional não chegar, ataques como este podem repetir-se.

"O governo moçambicano precisa de ajuda, sem qualquer dúvida. Precisamos de segurança em Cabo Delgado agora! E não podemos descartar a hipótese de um ataque como este voltar a acontecer noutro sítio."

Moçambique não conseguirá conter a violência sem apoio internacional, considera Jasmine Opperman, até porque é provável que os insurgentes estejam a receber ajuda de estrangeiros.

"O aperfeiçoamento, a sofisticação, os planos de longo prazo, o acesso a munições e armas enquanto o ataque estava a decorrer, mostram aperfeiçoamento. Tudo isto mostra que eles receberam treino por parte de estrangeiros", aponta.

Também a Fundação AIS, apoiada pela Igreja católica, descreve um clima de "angústia" e "incerteza" em Cabo Delgado. O ataque a Palma veio lançar ainda mais dúvidas sobre o destino de milhares de pessoas, lamenta o jornalista Paulo Aido.

O pároco de Palma "não sabe da maioria das pessoas da sua paróquia", conta à TSF. "As pessoas não sabem se os seus familiares estão vivos, se não estão vivos, se foram raptados. As pessoas que fugiram estão a passar fome. É tudo dramático."

Paulo Aido pede uma mobilização da sociedade portuguesa pelo fim da violência em Cabo Delgado. O "povo irmão" de Moçambique não o pode ser apenas nos "floreados dos discursos oficiais": neste momento precisa de ajuda.

À TSF, O secretário-geral da União das Cidades Capitais da Língua Portuguesa (UCCLA), Vítor Ramalho, anunciou que vai ser realizada uma reunião por videoconferência para serem ponderadas eventuais medidas que contribuam para o fim da violência em Cabo Delgado.

O que aconteceu em Palma "pode acontecer amanhã em qualquer cidade", alerta. "Ali não há um ideário, ali há o ideário da morte. Porque são ceifadas pessoas independentemente da origem, do género, da condição social, da idade e até crianças."

A violência em Cabo Delgado está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

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