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Os funcionários do sistema britânico de gestão de ambulâncias, em que se incluem paramédicos, condutores e trabalhadores do serviço de atendimento telefónico, estão esta quarta-feira em greve para exigir melhorias salariais.
O cenário é tal que um dos centros de contacto - neste caso, o do Nordeste - pede a quem esteja prestes a ligar o número de emergência 999 que se questione antes de o fazer. E a pergunta a colocar é simples: "Vou morrer? Sinto que vou morrer?", explicou à BBC o coordenador de operações Stephen Segasby.
O centro que dirige, avisa, vai dar prioridade a pacientes que corram risco de vida ou de membros do corpo. Ou seja, só vão ser despachadas ambulâncias para as chamadas de "categoria 1" e todas as outras passam pela avaliação de uma equipa clínica.
De resto, quase 750 militares foram chamados a ajudar e vão conduzir ambulâncias que façam transportes menos urgentes, acompanhados por um paramédico. Em Londres, circula apenas metade das 400 ambulâncias que costumam estar ao serviço.
O retrato de um dia complicado no Reino Unido, pela jornalista Dora Pires.
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O governo, por seu lado, emitiu avisos em que apela a cuidados redobrados e pede que se evitem comportamentos de risco ao volante ou com bebidas alcoólicas. O responsável pelo sistema público de saúde do Reino Unido (NHS), Stephen Powis, pediu à população que beba com moderação.
"Trabalhamos em estreita colaboração com os sindicatos para garantir a manutenção dos serviços de emergência para doenças com risco de morte, incluindo acidentes vasculares cerebrais e ataques cardíacos", disse.
Os partos em casa, por exemplo, foram cancelados e pede-se às grávidas que telefonem para os hospitais em caso de dúvida.
O ministro da Saúde, Steve Barclay, acusou, em declarações ao jornal The Daily Telegraph, os sindicatos de terem tomado a "decisão consciente de prejudicar os pacientes". A mensagem não caiu bem e foi considerada "verdadeiramente ofensiva para os funcionários do serviço de ambulâncias" e do NHS pela secretária-geral do sindicato GMB, Rachel Harrison.
Para esta líder sindical, "cabe ao governo acabar com o conflito", mas a recusa em "discutir salários com os sindicatos" significa a continuação do mesmo.
A greve no serviço de ambulâncias acontece apenas um dia após uma outra, dos enfermeiros. Na noite desta terça-feira, o sindicato do Royal College of Nursing enviou um ultimato ao governo, estabelecendo um prazo de dois dias para fecharem um acordo salarial, sob ameaça de novas paralisações após o Natal.
Em greve pela primeira vez em 100 anos de existência do sindicato, os enfermeiros tornaram-se num símbolo do aumento do custo de vida no Reino Unido, mas o primeiro-ministro Rishi Sunak mantém-se inflexível.
"Reconheço que é difícil. É difícil para todos porque a inflação está onde está", afirmou. "A melhor forma (...) de ajudar todos no país é reduzir a inflação o quanto antes", declarou.
Os dados de uma sondagem do instituto YouGov publicada esta terça-feira e citada pela AFP mostram que dois terços dos britânicos apoiam as greves dos enfermeiros e 63% as dos funcionários das ambulâncias.