Com Macron em Bruxelas para participar no Conselho Europeu, França vive mais um dia de violentos protestos contra as alterações à idade da reforma. Em Paris já há 26 detidos, mas a polícia adianta que cerca de cem manifestantes black bloc têm vindo, a partir da retaguarda da manifestação na capital francesa, a partir vidros e a atirar pedras e outros projéteis aos agentes.
O black bloc é um movimento de protesto no qual os participantes se vestem de negro e tentam esconder as suas identidades através, por exemplo, do uso de máscaras para dificultar a responsabilização por quaisquer atos que venham a ser considerados criminosos. A polícia já utilizou gás lacrimogéneo na Praça da Ópera.
Na manifestação desta quinta-feira, que junta 820 mil pessoas - dados da polícia - é notória, escrevem os media franceses, a presença de mais jovens, dado que o estudantes universitários se juntaram ao movimento social que está a contestar a polémica iniciativa legislativa de Macron.
"É como se não existíssemos." O lamento é de Laurence Briens, um dos milhares de pessoas que protestam, esta quinta-feira, contra a aprovação do aumento da idade da reforma, levada a cabo pelo presidente Emmanuel Macron, que os sindicatos acusam de querer incendiar as ruas.
Este é o nono dia de greve e manifestação convocado pelos sindicatos, mas o primeiro desde a decisão que Macron tomou por decreto. O Governo francês invocou uma disposição constitucional na semana passada para que o projeto de lei fosse aprovado sem passar pela Assembleia Nacional francesa. O documento deverá agora passar por uma revisão do Conselho Constitucional de França antes de se tornar lei.
O Executivo de Macron sobreviveu a duas moções de censura na Câmara Baixa do Parlamento na segunda-feira.
"Estou muito chateada, trataram-nos como crianças", reclamou Briens, de 61 anos. Decidiu manifestar-se após ver a aguardada entrevista de Macron esta quarta-feira: "É como se não existíssemos, como se não nos ouvisse."
O presidente assumiu a "impopularidade" da reforma que quer ver adotada "até o final do ano" pelo "interesse geral" e deixou críticas aos sindicatos, à oposição e aos manifestantes mais radicais, que comparou a "subversivos".
O líder do sindicato CGT, Philippe Martínez, acusou Macron de "atirar gasolina para o fogo", em especial quando, há uma semana, várias cidades registaram protestos espontâneos, marcados pela queima de caixotes do lixo e acusações de violência policial.
Laurent Berger, líder do principal sindicato francês, CFDT, apelou a "ações não violentas" para manter o apoio da opinião pública, maioritariamente favorável às manifestações e opositora das alterações à lei.
Os sindicatos têm sido a base da contestação desde janeiro e, a 7 de março, conseguiram mobilizar entre 1,28 e 3,5 milhões de pessoas - segundo dados da polícia e dos organizadores, respetivamente -, nos maiores protestos contra uma reforma social em três décadas.
Esta quarta-feira, receberam o apoio de 300 profissionais da cultura, entre eles as atrizes Juliette Binoche e Camille Cottin, que num artigo publicado no jornal Libération pedem a revogação da lei que consideram "injusta".
A manifestação desta quinta-feira é a primeira desde que Macron impôs o seu plano por decreto e revela-se crucial para saber se se mantém viva a mobilização contra as alterações que ainda esperam aprovação final. A polícia prevê "entre 600 e 800 mil pessoas em 320 ações".