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Ainda mal recuperado do grande sismo de 2010, o Haiti voltou a tremer fortemente no último sábado, e muitos milhares de pessoas foram afetadas. Com os holofotes do mundo no Afeganistão, quase nada chegou para ajudar um dos países mais pobres do mundo.
Felipe del Cid, chefe da operação da Cruz Vermelha no Haiti, espera receber até ao final da semana 120 toneladas de provimentos, como comida e medicamentos. Também os plásticos para cobrir os tetos do que resta das casas são, neste momento, um bem precioso. "A ajuda é composta ferramentas e plásticos para que as pessoas possam começar a arranjar as casas. Mas estamos a juntar também medicamentos."
Esta ajuda, no entanto, só chega para acudir aos casos mais urgentes: "A senhora ou senhor ou família que perdeu a casa não resolve o problema com um kit de cozinha. Isso é um paliativo. Depois ainda falta um longo caminho para recuperar."
Felipe del Cid lembra que o terramoto do passado sábado afetou um milhão de pessoa, e provocou danos em perto de 80 mil casas. O abalo deixou um número de desalojados ainda por determinar, até porque os estragos nem sempre são visíveis. "Não é a foto de um edifício colapsado, mas sim milhares de casas afetadas. Isto vai sair do bolso das pessoas."
Desde sábado, a Cruz Vermelha já resgatou quase dez mil pessoas. "Temos ambulâncias a fazer buscas e resgates a transferir doentes entre hospitais. Estamos a transferir doentes de avião; doentes que chegam ao aeroporto e são transportados para hospitais com mais capacidade, aqui em Port au Principe", conta Felipe del Cid.
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O número de mortos já ultrapassou os dois mil, mas o número deve continuar a subir, e os resgates não terminaram. "As nossas equipas ainda não conseguiram chegar a todo o lado. Há muitos civis a ajudar nos resgates. Portanto, o número de vítimas deve aumentar nos próximos dias, quando removermos os escombros."
Mais de uma década depois, na memória de todos está ainda o grande terramoto de 2010, que fez 200 mil mortos e deixou sequelas nos sobreviventes: "Desespero, ansiedade e frustração nas famílias. Essa é uma das nossas principais preocupações."
No ano passado, a moeda do Haiti caiu quase 30%. Ainda a recompor-se do sismo de 2010, o país enfrentava uma grave crise económica e política que a pandemia veio agravar. Trata-se de "uma espécie de caldo de cultura que gera e ativa outro fatores que agudizam o problema", salienta Felipe del Cid, nesta entrevista à TSF.
A crise política também contribui para a instabilidade, depois de o Presidente do país ter sido assassinado no mês passado.
Agora, com vários poços desmoronados e a rede de distribuição de água colapsada, as autoridades temem que haja um aumento de doenças como a dengue, mas também o agravamento da pandemia. "O acesso à água, a falta de equipamentos de proteção pessoal contra a Covid, a falta de condições para atender os doentes de Covid... Vamos seguramente ter picos nas zonas mais afetadas..."
Vivem no Haiti pouco mais de 11 milhões de habitantes. O Banco Mundial estima que 90% da população está sob risco de desastres naturais.