Investigadora avisa que Israel pode estar "à beira de uma guerra civil"

Apesar dos protestos, a investigadora do ISCTE não acredita que Benjamin Netanyahu abandone o poder facilmente.

Maria João Tomás, investigadora em relações internacionais do ISCTE, avisa que Israel pode estar à beira de uma guerra civil depois da demissão do ministro da Defesa, que era do partido de Benjamin Netanyahu.

"Vejo isto como estando Israel à beira de uma guerra civil, por razões muito simples. A população toda está contra o Governo, contra a maioria de Netanyahu. Ele demitiu agora o ministro da Defesa e isso leva à questão dos militares, que estão com o ministro da Defesa. O ministro era de um partido que apoiava uma mudança mais suave da legislação, não tão drástica", explicou à TSF Maria João Tomás.

Apesar dos protestos, a investigadora não acredita que Benjamin Netanyahu abandone o poder facilmente.

"Ele está muito agarrado ao poder. Conseguiu fazer passar na semana passada a lei que permite que ele não seja suspenso das suas funções, a não ser em caso de demência, que provem isso. Ele tem essa preocupação porque sabe que tem uma grande probabilidade de ser preso e essa é a única forma que ele tem de se manter no poder, é essa a aliança que tem com a extrema-direita e a reforma judicial que está a fazer. Ele vai manter-se no poder até ao fim, até não conseguir mais", acredita a investigadora em relações internacionais do ISCTE.

Trabalhadores de vários setores económicos e sociais de Israel entraram esta segunda-feira em greve em mais uma tentativa para aumentar a pressão sobre Netanyahu para que o executivo que lidera descarte o plano de reforma judicial.

A greve geral, de caráter imediato, foi convocada de manhã pelo líder do Histadrut durante uma conferência de imprensa em que exigiu o fim da reforma judicial anunciada pelo Governo, que está a dividir profundamente o país.

Imediatamente após o anúncio da greve, as autoridades aeroportuárias de Israel indicaram que os voos com partida prevista do principal aeroporto internacional do país estavam cancelados.

A reforma judicial desencadeou uma das mais graves crises internas de Israel, ao unir a oposição, líderes empresariais, magistrados e funcionários judiciais, académicos, intelectuais, estudantes e mesmo militares do país.

O Presidente de Israel, Isaac Herzog, pediu hoje a Netanyahu para "agir com responsabilidade e coragem" e pôr fim "de imediato" ao processo legislativo da polémica reforma judicial que está a dividir o país.

A peça central da revisão é uma lei que dará à coligação governamental a última palavra sobre todas as nomeações de juízes, inclusive do Supremo Tribunal, e lhe permitirá igualmente nomear políticos para cargos de assessoria jurídica do Governo.

Outras leis incluídas na reforma dão ao parlamento a possibilidade de anular por maioria simples decisões do Supremo Tribunal de Justiça (STJ), limitando a revisão judicial das leis e até a sua revogação pela mais alta instância judicial do país, mesmo que esta as considere inconstitucionais.

Netanyahu e os seus parceiros de coligação argumentaram que o projeto devolverá o equilíbrio à relação entre os poderes executivo e judicial, permitindo ao Governo controlar o que consideram ser um tribunal intervencionista com simpatias liberais.

Mas críticos advertiram de que as leis do projeto de reforma judicial vão eliminar o sistema de controlos e equilíbrios de Israel - pondo fim à separação de poderes, princípio em que assenta qualquer Estado de direito - e concentrar o poder nas mãos da coligação governamental, acrescentando que Netanyahu, em julgamento por acusações de corrupção, tem um claro conflito de interesses.

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