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Vitali Klitschko, numa entrevista organizada pelo Washington Post e que a TSF acompanhou em direto, considerou que as forças ucranianas têm estado a travar o avanço russo porque estão unidas e têm um objetivo comum: reconquistar a liberdade. No entanto, se Putin utilizar armamento químico nem os civis, nem os militares estão preparados. Ele lembrou que a Ucrânia sempre esteve em paz e por isso não se preparou para essa possibilidade, nem tem armamento suficiente. A provar isso mesmo, diz Vitali Klitschko, está o facto de o país ter abdicado das armas nucleares que herdou da União Soviética.
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O presidente da câmara garantiu que não pretende sair de Kiev, porque é lá que está a sua casa. Ressalvou, no entanto, que não quer viver em ditadura e por isso não pode garantir que não tenha de abandonar a capital. Vitali Klitschko acrescentou "ninguém quer morrer, mas o nosso pai, que morreu em Chernobyl em 1986, disse-nos que é um grande privilégio morrer a defender a pátria. Para nós a rendição não é uma opção."
Wladimir Klitschko, irmão de Vitali, que mesmo antes da guerra se juntou às forças de defesa territorial de Kiev, admitiu que no início a resistência não foi fácil.

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"Havia falta de preparação, todas as pessoas da defesa territorial são ou voluntárias ou antigos militares. Homens e mulheres, e aqui tenho de realçar as mulheres que ficaram para trás para defender as casas, as famílias e os filhos, tenho muito orgulho nelas. Todos os dias vamos aprendendo e ficando mais espertos. Agora entendemos melhor o inimigo, estamos preparados para tudo," contou o antigo campeão mundial de boxe.
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Esta semana Biden vem à Europa para uma reunião da Nato e Wladimir Klitschko confessou que gostava de lhe pedir acesso a mais armamento, armas mais modernas.
"Não podemos defender o nosso país só com os pulsos, por assim dizer, precisamos de mais armas defensivas. Quanto à polémica de fechar os céus e todas as preocupações de que essa ação possa provocar uma guerra direta com a Rússia, nós podemos fechar os céus, mas precisamos que nos deem os instrumentos para isso."

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Wladimir Klitschko lembrou que os ucranianos estão em desvantagem nesta guerra e é preciso travar os ataques russos contra os civis, "eles estão a matar inocentes, não estão a destruir infraestruturas militares. Nós vemos onde caem as bombas e é em zonas civis. Isto é um genocídio do povo ucraniano."
O presidente da câmara de Kiev partilha desta visão e admite que a situação é difícil. "O exército russo não está muito longe do centro, está a uma distância entre 16 e 24 kms do local onde nos encontramos. Todos os dias há grandes batalhas, mas o nosso exército está a estragar os planos da Rússia que eram o de uma conquista rápida do país", acrescentou Vitali Klitschko.
Nesta entrevista, Wladimir Klintshko criticou duramente o presidente russo defendendo que esta guerra vai levar ao fim de Putin.
"Não entendemos a mente irresponsável de um louco que invade um país depois da Segunda Guerra Mundial. Ele diz que vai traçar novas fronteiras, mas é de loucos. Estamos em 2022. É um homem do passado, um louco do passado e também ele vai passar, tenho a certeza. A evolução nunca para," afirmou de forma determinada. Para Wladimir a invasão da Ucrânia é um cancro que vai acabar por corroer a Rússia por dentro.
Os dois irmãos, antigos campeões mundiais de boxe, peso pesado, defenderam ainda que esta não é apenas uma guerra da Ucrânia, os efeitos vão tocar a todos. É preciso um mundo ativo porque "o amanhã pode já não existir para os ucranianos e para os princípios democráticos pelos quais estamos a lutar e que estamos a defender."