Kremlin quer apagar "a identidade" ucraniana. O que está a acontecer "é um genocídio"

Eugene Finkel, professor da Universidade John Hopkins especializado em estudos sobre o holocausto, já não tem dúvidas: a Rússia está a cometer "um genocídio", não quer acabar com os nazis, quer acabar com todos os ucranianos. E a solução não passa, defende Finkel à TSF, por uma intervenção direta da NATO, mas por não parar de fornecer armas à Ucrânia para que os ucranianos se possam defender.

Nascido em Lviv, Eugene Finkel dá aulas de Relações Internacionais na Universidade John Hopkins e quando fala sobre genocídio aos alunos alerta sempre para os problemas deste conceito. Por duas razões: porque não estabelece limites claros e porque é difícil de provar. Até há poucos dias, Finkel acreditava que não havia intenção genocida na invasão russa da Ucrânia, mas agora já não tem dúvidas.

Às imagens que chegaram de Bucha, este professor juntou a retórica russa e afirma que tudo combinado não deixa dúvidas: os russos querem uma "desucranização".

"Todos estamos focados em Bucha, um subúrbio específico de Kiev, mas há muitas evidências de que isso aconteceu em todos os territórios ocupados pela Rússia. Não foram os soldados que individualmente decidiram matar pessoas, é algo que está a acontecer numa escala maior", acredita. "Atravessámos o limite, partimos de um massacre individual descoordenado para algo muito maior" e a retórica russa, defende Eugene Finkel, evoluiu da necessidade de mudar o regime ucraniano para "a destruição da Ucrânia enquanto país e dos ucranianos enquanto grupo".

Para este professor, a intenção genocida da Rússia ficou mais do que clara com o artigo publicado pela agência de notícias russa RIA Novosti. "Quando uma estação oficial de média publica um artigo a dizer que a Ucrânia não é um Estado verdadeiro e não tem pessoas reais", acredita Finkel, não há dúvida.

O que o Kremlin quer é mudar o nome de um país, destruir uma cultura e "forçar as pessoas a esquecerem uma identidade". Questionado sobre o facto dos russos rejeitarem responsabilidades pelas mortes em Bucha, o professor considera que não é surpreendente. Mas como provar, tendo em conta a dificuldade que refere? "Temos de recolher o máximo de provas possível no terreno e o Ocidente deve fornecer à Ucrânia toda a ajuda forense para recolher essas provas", responde.

Já em relação ao fim do conflito, Eugene Finkel acredita que não é uma intervenção militar do Ocidente que vai resolver o problema: "Acho que não vai acontecer e acho que não deve acontecer."

Para este professor da Universidade John Hopkins uma repetição daquilo que aconteceu na Jugoslávia com a aliança atlântica a bombardear posições russas não é aconselhável, "mas precisamos continuar a ajudar os ucranianos com aquilo que eles pedirem e eles pedem armas".

Além disso, defende, é preciso continuar a impor fortes sanções à Rússia, mas para isso a Europa tem de assumir que há um preço a pagar pela paz.

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