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Alguns líderes católicos e judeus em Roma condenaram uma procissão fúnebre "ofensiva e inaceitável" na qual o caixão foi coberto por uma bandeira nazi e as pessoas que assistiam fizeram a saudação fascista no exterior da igreja. O jornal The Guardian dá conta de que fotografias e vídeos do funeral de segunda-feira, publicados online, mostravam mais de 20 pessoas reunidas na parte de fora da igreja, o caixão coberto com a suástica gravada em tecido, e os gritos de cidadãos dizendo "presente!" com os braços direitos estendidos.
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A diocese de Roma condenou veementemente o acontecimento, e enfatizou que nem o pároco nem o padre que celebrou o funeral sabiam o que iria acontecer no exterior, finda a missa fúnebre. No comunicado, o conjunto de paróquias considerou a bandeira nazi e a suástica "um símbolo horrível e irreconciliável com o cristianismo".
A igreja acrescenta que "este aproveitamento violento e ideológico, sobretudo após um ato de fé nas imediações de um lugar sagrado, é grave, ofensivo e inaceitável", não só para todas as paróquias de Roma, como para a comunidade que vive na capital italiana". O pároco Alessandro Zenobbi distanciou assim da igreja "todas as palavras, gestos e símbolos usados no seu exterior, e que são atribuídos a ideologias extremistas, distantes da mensagem do evangelho de Cristo".
De acordo com a imprensa italiana, as pessoas presentes no funeral velavam um homem de 44 anos, antigo militante de um grupo da extrema-direita em Itália, que morreu na sequência de um coágulo sanguíneo.
O papa Francisco é o bispo responsável pela igreja de Roma, mas delega estas funções ao cardeal Angelo De Donatis.
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Também a comunidade judaica de Roma expressou a sua repugnância face ao ocorrido e manifestou revolta por estes eventos se perpetuarem mais de sete décadas depois do fim da II Guerra Mundial e da queda do regime fascista em Itália. "É inaceitável que uma bandeira com uma suástica possa ainda ser mostrada em público na atualidade, especialmente numa cidade que assistiu à deportação dos seus judeus pelos nazis e colaboradores do fascismo", pode ler-se no comunicado.
A comunidade judaica refere-se ao ataque ao bairro judeu de Roma, a 16 de outubro de 1943, em que mais de mil judeus da capital italiana foram deportados, a maioria para o campo de extermínio de Auschwitz, na Polónia, ocupada então pelos nazis. Apenas 16 dessas pessoas puderam regressar.
O episódio da procissão fúnebre "tornou-se ainda mais revoltante por ter acontecido em frente a uma igreja", assinala ainda a comunidade judaica.
Um acontecimento semelhante ocorreu numa igreja em Roma em março de 2021.