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Emmanuel Macron apresenta esta quarta-feira, 19 de janeiro, as prioridades da presidência francesa da União Europeia (UE) no Parlamento Europeu de Estrasburgo. A presidência tricolor defende três prioridades: rever o orçamento europeu, fazer uma revisão das leis de migração com a reforma do espaço Schengen, e erguer uma "soberania europeia".
O Presidente francês vai esclarecer as funções, missões e responsabilidades da França neste exercício à frente do Conselho Europeu. Frente a 705 deputados europeus, o chefe de Estado francês vai tentar convencer a assembleia, quanto ao desempenho deste papel decisivo da presidência rotativa do conselho da União Europeia. A França assumiu esta função no dia 1 de janeiro de 2022 durante seis meses, antes de passar a responsabilidade à República Checa.
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A Europa da Defesa vai ser uma das prioridades da presidência francesa, com a tensão entre a Rússia e a Ucrânia e com Bruxelas e Paris preocupados e afastados desta negociações que decorrem entre a Rússia e a NATO.
Para enfrentar esta situação, a presidência europeia previu uma cimeira extraordinária sobre questões de defesa em março. Um encontro importante para Emmanuel Macron que vai tentar defender a sua filosofia: a União Europeia como uma bússola estratégica. O chefe de Estado francês quer reposicionar a Europa politicamente num mundo complexo onde por vezes os 27 assumem papéis de atores menores.
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O conflito na Ucrânia ilustra esta filosofia de Macron, uma vez que as negociações têm estado acima dos poderes europeus. Negociações dirigidas por Vladimir Putin que têm afastado os líderes europeus. Em resposta, o Presidente francês tenta introduzir o formato Normandia entre a França, Alemanha, Ucrânia e Rússia, mas este formato cria problemas de inclusão entre os 27.
"Teremos um encontro em março e várias cimeiras, onde iremos debater a questão dos Balcãs e, evidentemente, da situação geopolítica que nos obriga, nos próximos dias e semanas, a tomar decisões em conjunto para defender a segurança europeia no que diz respeito à questão da Ucrânia (e outras situações)", defende Emmanuel Macron.
Esta quarta-feira, após a intervenção de cerca de 20 minutos, Macron responderá a perguntas dos eurodeputados. O socialista Pedro Marques já revelou a pergunta que vai fazer.
"Neste momento em particular, a pergunta que dirigirei ao Conselho, ao Presidente Macron enquanto representante do Conselho, vai no sentido de sabermos qual é a posição que a Europa deve adotar, num contexto da sua autonomia estratégica, em relação a este conflito latente entre a Rússia e a Ucrânia. Estamos em risco de, a qualquer momento, termos um conflito armado nas nossas fronteiras europeias e precisamos de saber, por um lado, como é que a Europa se posiciona relativamente a esta ameaça de intervenção militar russa, como é que a Europa planeia ser parte de um esforço de desescalada desta tenção da Rússia e a Ucrânia, mas também como é que a Europa se faz respeitar e tem, de facto, uma capacidade de autonomia estratégica completamente diferente", explicou à TSF o eurodeputado Pedro Marques.
Ouça as declarações do eurodeputado socialista à TSF
Já Paulo Rangel mostrou-se preocupado com a proposta de Schengen.
"Uma das reformas que temos de fazer é garantir que há uma governação de Schengen que é, do meu ponto de vista, pilotada pela Comissão. Isto seria uma coisa importante que não vejo muito na agenda francesa. Vejo a agenda francesa muito mais preocupada com a questãodas migrações e da proteção das fronteiras externas. Isso é que é realmente o ponto em que a presidência francesa atua e em que Macron quer, no fundo, uma resposta europeia para também combater internamente uma política mais demagógica e um pouco populista contra as migrações que a direita radical de Le Pen tem vindo a cavalgar", afirmou Paulo Rangel.
Ouça as declarações do eurodeputado à TSF
A Europa da Defesa não pode, no entanto, segundo analistas, ser vista apenas num prisma militar, mas na construção de sinergias conjuntas. Nos próximos três meses, Emmanuel Macron vai tentar enquadrar 400 reuniões e atingir um balanço positivo da presidência do Conselho da UE.
Em seis meses a França não vai revolucionar o mundo nem a União Europeia, mas há compromissos para assumir a curto e médio prazo: um deles o salário mínimo europeu - uma dimensão social defendida por Emmanuel Macron - e a regulamentação das grandes multinacionais da era digital.
A longo prazo, outros projetos mais ambiciosos como o reforço do pacto de estabilidade e crescimento para não voltar a um estreita ortodoxia orçamental. Sem esquecer as ambições geopolíticas do Presidente francês, Emmanuel Macron procura ter uma voz europeia neste concerto das nações.
Em 2017, Emmanuel Macron apresentou-se às presidenciais como o candidato mais europeu de todos e volta agora a usar a mesma estratégia, assumindo a presidência do Conselho Europeu. Num momento em que ainda não oficializou a candidatura às presidenciais, não esconde a vontade de ser reeleito em abril deste ano.