Miúdos e graúdos constroem pontes contra violência nas ruas nos EUA
Kids Next Door

Miúdos e graúdos constroem pontes contra violência nas ruas nos EUA

Um grupo de jovens voluntários acompanha idosos sozinhos, nas saídas à rua, para combater as agressões que estão a atingir a comunidade asiática.

Julia Chin, 74 anos, vive numa zona nobre de São Francisco, não muito longe de Chinatown.

Todos os dias sai à rua, para uma caminhada solitária, sempre com um percurso diferente, por razões de segurança.

De ascendência chinesa, Julia sente-se "segura e à vontade" no bairro onde vive há quase 50 anos, mas está preocupada com os ataques que se multiplicam nos EUA, contra a comunidade asiática. "Dizem que o vírus (da Covid-19) veio da China e por isso atacam os chineses", mas também já soube de "um casal vietnamita que foi atacado por ladrões que diziam: não temos emprego, não temos dinheiro, está tudo fechado" devido à pandemia.

Esta semana, Julia Chin fez o primeiro passeio com o projecto KIND, Kids Next Door, ou seja, os miúdos da porta ao lado.

A ideia nasceu de três irmãos de origem asiática: Matthew, Tyler e Katherine Joe.

Confinados em casa com a pandemia, os três sentiram-se inspirados pela companhia da avó. Matthew, 16 anos, explica que o tempo passado com a avó "fez-nos perceber a sorte que temos, sobretudo porque muitos dos nossos amigos não têm avós e não conseguem estar com as gerações mais velhas, com quem possam partilhar experiências. Pensámos que os seniores podiam contar-nos as suas histórias e experiências. Quando vamos fazer caminhadas, eles contam-nos muitas vezes histórias de infância. Tem sido bem divertido!"

Os KIND fazem companhia aos mais velhos, em passeios a pé, nas compras ou quando eles estão sentados no parque.

Cada idoso é acompanhado por dois jovens, em sessões que podem ir até às duas horas. "Um dos voluntários dá a mão a essa pessoa mais velha, para garantir que ela não cai. E o outro está mais atento ao que se passa à volta. KIND quer dar segurança, menos através de protecção, e mais por amizade e companhia", enfatiza Matthew Joe.

A iniciativa é também uma resposta aos crescentes ataques de que têm sido alvo os asiáticos mais velhos.

"Acreditamos que isso acontece porque os asiáticos andam mais sozinhos do que os idosos de outras comunidades", explica Tyler, de 14 anos.

"Observámos que a violência contra as pessoas mais velhas na California acontece na maioria, com idosos que estão sozinhos. Então, pensámos: e se essas pessoas não estivessem sozinhas?", acrescenta Matthew. "Falámos com a polícia de São Francisco e um grupo de três é muito menos vulnerável do que uma única pessoa sozinha".

Além da polícia, os jovens tiveram reuniões com as autoridades de saúde. Devido à Covid-19, o programa tem algumas condições: os mais velhos já devem ter completado as duas doses da vacina contra o coronavírus, a higienização das mãos é obrigatória antes das sessões e evita-se "absolutamente tocar na cara". Os voluntários têm ainda de estar munidos com telemóveis, em caso de emergência médica ou de segurança, e os idosos têm de ser "relativamente saudáveis".

Em fase piloto, o projecto reúne já cerca de 40 jovens voluntários, mas estende-se a poucos bairros - os menos problemáticos.

Com os KIND, os mais velhos ganham segurança, companhia e amizade, enquanto os mais novos ganham lições de vida. "Estamos a aprender várias coisas", afirma Matthew, "como as nossas famílias e amigos chegaram onde chegaram, como tivemos sorte por termos nascido quando nascemos. Por exemplo, a minha avó descascava camarões para pagar a sua educação. As mãos dela cheiravam a camarão e marisco e alguns miúdos na escola gozavam com ela. Acho esta história muito interessante".

São histórias que ligam os mais velhos e os miúdos da porta ao lado. Uma ponte entre gerações, com um ouvido e uma mão amiga, num país cada vez menos para velhos.

A autora não escreve de acordo com o Novo Acordo Ortográfico

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