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Uma investigação do jornal The Guardian mostra que pouco mudou desde que o país se comprometeu a mudar as leis laborais.
A FIFA recomenda 26 hotéis, todos de 4 e 5 estrelas, com preços por noite que variam entre os 300 euros e os cerca de mil euros. São valores com os quais os trabalhadores apenas podem sonhar. Dos 40 trabalhadores, com quem os jornalistas falaram, a grande maioria ganha menos de um euro e meio por hora e há quem receba um pouco abaixo do euro.
Eles trabalham entre os luxos das piscinas, dos bares, dos Spas e dos cocktails mas lutam por sobreviver.
Em março, deste ano, o Catar criou o salário mínimo nacional que equivale a 1 euro e meio por hora, mais uma pequena verba para a comida e dormida. O jornal viu a folha de pagamento de um dos trabalhadores que antes de março ganhava 178 euros por mês. Com o salário mínimo ele foi aumentado para os 237 euros, mas a diferença de 59 euros foi-lhe totalmente retirada para pagar a alimentação e alojamento.
Os jornalistas pernoitaram ou visitaram 7 dos hotéis e em todos ouviu os funcionários queixarem-se de que fazem turnos de 11, 12 horas e não têm folgas durante meses. Quem ousou pedir uma folga viu o dia ser-lhe retirado do ordenado.
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Há outras situações complicadas, como a do segurança que faz turnos de 12 horas, ganha menos de um euro por hora, mas durante 5 meses não recebeu nada porque precisava de pagar ao recrutador mais de 1500 euros de uma taxa ilegal.
Os trabalhadores fizeram várias alegações de violação da legislação do trabalho do Catar, o que sugere que as reformas adotadas para responder às criticas dos defensores dos direitos humanos não estão a ser aplicadas. Nos anos que se seguiram à atribuição do mundial de 2022 o sistema Kafala , que estabelecia que os trabalhadores não podiam mudar de emprego ou sair do país sem a autorização dos patrões, foi duramente criticado. As autoridades anunciaram o fim desse sistema mas os trabalhadores queixam-se de que na prática nada mudou.
Há também funcionários que se queixam dos alojamentos nos subúrbios, são pequenos, estão sobrelotados e por vezes ficam a mais de hora e meia de distância dos hotéis.
As denúncias dos trabalhadores indicam que a FIFA não fez as verificações básicas nos hotéis que incluiu no catálogo recomendado e isso viola a politica de direitos humanos da federação. Uma política que a obriga a não se envolver com negócios que violem os direitos do trabalho.
Um porta-voz da FIFA garantiu ao The Guardian que a federação leva muito a sério as acusações e adiantou que foi criada uma equipa para fazer uma auditoria e garantir que as empresas que estão envolvidas no mundial, incluindo os hotéis, respeitam os direitos dos trabalhadores.