"No autocarro havia um silêncio assustador." Perto de 50 refugiados da Ucrânia chegam a Lisboa

Os refugiados vão agora ser distribuídos um pouco por todo o país - e quase todos já têm casa e trabalho garantidos.

Chegou a Lisboa, este domingo, um dos quatro autocarros que partiu na última semana para a fronteira da Polónia, para entregar medicamentos aos militares na linha da frente e aos hospitais ucranianos e para trazer refugiados. No autocarro da associação EntreMundos, vieram 47 pessoas e dois cães, fugidos da guerra na Ucrânia.

Em declarações à TSF, uma das voluntárias nesta missão, Conceição Correia, descreve o ambiente que encontrou em Medyka, a primeira cidade polaca a receber refugiados, no início desta crise.

"Aí, sim, é assustador. As pessoas acabadas de passar a fronteira, com toda a vida empacotada numa pequena mala e num saco de plástico, com um ar aterrorizado", relata.

No entanto, apesar de "toda a desgraça", Conceição exalta o esforço de "milhares de voluntários" no acolhimento dos refugiados. "[Há] pessoas a tocar piano, pessoas a darem roupa, uma tenda só para as pessoas se sentarem quentinhas e descansarem um bocadinho (...). Há muito carinho. As pessoas moveram-se - imensas pessoas, de vários países - para ajudar no que for preciso."

Conceição Correia nota que, na viagem para Portugal, começou por haver muito medo, por parte das mulheres refugiadas. "Quando entraram no autocarro, foi assustador o silêncio. Sentiam-se seguras, porque finalmente tinham um transporte, mas estavam aterrorizadas com o que as espera."

O ambiente foi, contudo, mudando, no segundo e no terceiro dias de viagem. "Ontem e hoje, já todos conversávamos uns com os outros. Já muitos aprendiam a dizer 'obrigada'. Já havia abraços, já havia sorrisos. Penso que estão muito mais tranquilas neste momento, ressalva.

Chegados a Lisboa, os refugiados vão agora ser distribuídos um pouco por todo o país - e quase todos já têm casa e trabalho garantidos.

"Trouxemos 47 pessoas e dois cães - houve um senhor já de bastante idade que disse que se não conseguisse trazer o cão, vinha a pé até Portugal", conta a voluntária.

"Algumas delas vão para o Algarve, temos pessoas que vão para Marco de Canaveses, outras que vão para Fátima, outras que vão para Leiria,...", adianta.

"Trazíamos connosco uma psicóloga de crianças, que tinha formação até em momentos de crise (...) que vai trabalhar com toda a comunidade; temos uma senhora que vai fazer limpezas e o marido vai trabalhar para a construção civil; temos um miúdo que tinha uma loja de informática (...). Uma diversidade muito grande de pessoas, com várias profissões", refere. "Há muitas pessoas que já têm tudo definido, e outras em que as coisas ainda estão a ser tratadas".

A guerra na Ucrânia já levou 10 milhões de pessoas a saírem de casa, entre deslocados e refugiados, de acordo com as Nações Unidas.

A lei marcial foi imposta a 24 de fevereiro, dia em que a Rússia lançou uma ofensiva militar na Ucrânia que causou pelo menos 847 mortos e 1.399 feridos entre a população civil, incluindo mais de 140 crianças. Segundo as Nações Unidas, cerca de 13 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.

A invasão russa foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que respondeu com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas e políticas a Moscovo.

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