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O consórcio internacional de jornalistas de investigação teve acesso a novos documentos que revelam que mais de 30 líderes mundiais têm fortunas escondidas em offshores. A investigação aos mais de 12 documentos entregues ao consórcio foi divulgada este domingo.
São documentos de firmas de advogados, empresas responsáveis pela criação de outras em paraísos fiscais como o Belize, as ilhas virgens britânicas, o Panamá, a Suíça ou as Ilhas Caimão.
Os documentos mostram casos não apenas de fortunas escondidas, mas de fuga aos impostos e, em alguns casos, de lavagem de dinheiro.
Para além dos chefes de Estado e de governo, os documentos revelam também as finanças secretas de 300 outros funcionários públicos, como ministros, juízes, autarcas e militares de mais de 90 países.
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Entre os nomes referidos na investigação, estão o rei Abdallah II da Jordânia, o primeiro-ministro da República Checa, Andrej Babis, e o Presidente do Equador, Guillermo Lasso, revela a investigação, publicada em órgãos de informação como The Washington Post, BBC e The Guardian.
Estes documentos revelam pela primeira vez o estado americano do Dakota do Sul como um paraíso fiscal. Há diversos portugueses que aparecem nestes documentos, como Vitalino Canas, Manuel Pinho e Morais Sarmento, segundo adianta o Expresso.
A investigação revela ainda novos detalhes sobre importantes doadores estrangeiros do Partido Conservador do primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, e detalha atividades financeiras questionáveis do "ministro oficioso de propaganda" do Presidente russo, Vladimir Putin.
O círculo próximo do primeiro-ministro do Paquistão, Imran Khan, é denunciado por ter escondido milhões de dólares em empresas e entidades externas.
Também o Presidente queniano, Uhuru Kenyatta, e seis membros da sua família são denunciados por deterem, em segredo, pelo menos 11 empresas no estrangeiro, uma das quais avaliada em 30 milhões de dólares.
O ICIJ diz ter baseado a sua investigação numa "fuga sem precedentes", envolvendo cerca de dois milhões de documentos, trabalhados por 600 jornalistas, a "maior parceria da história do jornalismo".
"É mesmo maior que os Panama Papers"
Ana Gomes considera que o nome atribuído ao novo caso é mais do que ajustado.
"Abriu-se mais uma caixa de pandora, mas aparentemente é gigantesca, é mesmo maior que os Panama Papers e esta é também uma consequência da utilização do digital. Da mesma maneira que é utilizado pelos criminosos para as suas transações, branqueamento de capitais e outros crimes conexos, pode ser utilizado pelas autoridades, como o consórcio de jornalistas demonstra ao expor todas as ligações e esquemas de encobrimento de transferências de fortunas para offshore, muitas vezes encobrindo atos de corrupção, fuga ao fisco e criminalidade organizada que visa lavar o dinheiro de origem suja para o reciclar na economia legal. Naturalmente com tremendas consequências para cada um dos cidadãos porque é aos estados que se estão a sonegar recursos importantíssimos que podiam e deviam ser investidos na saúde pública, segurança, etc.", explicou à TSF Ana Gomes.
Na opinião da antiga eurodeputada, a procissão ainda vai no adro e não ficou surpreendida com a revelação de nomes como o de Manuel Pinho. Agora considera que é preciso saber se os envolvidos pagaram os impostos devidos.
"Ainda não se sabem detalhes sobre estes casos, mas infelizmente o sistema, tal como comprovámos com todas as nossas investigações no Parlamento Europeu, é absolutamente assente nos offshores. Os EUA são o maior offshore e a Europa tem vários offshores, não são só em ilhas paradisíacas ou infernais. O sistema financeiro está assente no esquema dos offshores e, portanto, independentemente das atuações dessas personalidades portuguesas poderem ser legais, a questão é ver se implicaram o pagamento da tributação fiscal, etc.", afirmou a ex-eurodeputada.
Até agora, apenas três nomes de portugueses foram apanhados na rede do consórcio. Nada que surpreenda Susana Coroado, presidente da Transparência e Integridade. A especialista explica que para já não há muitos portugueses porque a empresa investigada trabalha mais com norte-americanos do que com europeus.
"Os Panama Papers na altura surpreenderam porque tinham poucos nomes americanos e isso resultava do facto de a empresa em questão, a Mossack Fonseca, trabalhar sobretudo para o mercado europeu. Desta vez temos mais americanos porque a empresa é diferente. O facto de haver só três nomes portugueses não quer dizer que não existam mais portugueses envolvidos na utilização de offshores, simplesmente as ligações a estes intermediários que criam estes offshores não são muito fortes", esclareceu Susana Coroado.
Na opinião da presidente da Transparência e Integridade, estas investigações são importantes porque só assim se percebe de onde vem tanta riqueza.
"Há todo um sistema internacional que permite este tipo de ocultação e aquilo que vemos é que, por exemplo, em todo o mundo há um mercado imobiliário em efervescência. Vemos, cada vez mais, exposição de riqueza mas, na realidade, não percebemos muito bem de onde é que ela vem. Através destes escândalos começamos a conseguir perceber de onde vem esse dinheiro, como é que a riqueza é ocultada e como é que determinados investimentos são feitos em alguns países, incluindo Portugal", acrescentou a presidente da Transparência e Integridade.
Ouça as declarações de Susana Coroado à TSF