"Parem a guerra." Jornalista interrompe noticiário da televisão estatal russa em protesto

Marina Ovsyannikova segurava um cartaz a pedir para se acabar com a guerra e não se acreditar na propaganda feita pelo canal.

Uma jornalista entrou, na segunda-feira, em estúdio durante a emissão do noticiário da televisão estatal russa enquanto segurava um cartaz em protesto contra a guerra entre a Rússia e a Ucrânia.

"Sem guerra. Parem a guerra. Não acreditem na propaganda que vos dizem aqui. Russos contra a guerra", podia ler-se no cartaz.

A OVD-Info, uma plataforma que monitoriza as detenções em protestos da oposição, identificou a mulher como Marina Ovsyannikova, editora e jornalista do Channel One, e que agora deverá estar detida.

No momento em que a apresentadora Yekaterina Andreyeva falava sobre as relações com a Bielorrússia, Ovsyannikova, que usava um fato formal escuro, apareceu na imagem enquanto segurava o cartaz. A manifestante conseguiu ainda dizer algumas frases em russo. "Parem a guerra", foram algumas das palavras ditas por Ovsyannikova. Andreyeva, que tem apresentado as notícias desde 1998, tentou abafá-la falando mais alto. O canal mudou rapidamente a imagem para filmagens de um hospital.

De acordo com a agência de notícias AFP, este acontecimento representa uma quebra de segurança altamente invulgar no Channel One, um canal da televisão estatal que é fortemente controlado. O principal noticiário, "Time", tem sido transmitido desde a era soviética e é visto por milhões de pessoas em todo o país, particularmente pela população mais velha.

Numa declaração divulgada pela agência de notícias estatal russa TASS, o canal referiu que "ocorreu um incidente com uma mulher estranha em filmagem". Citando uma fonte ligada à aplicação das leis, a TASS afirma que a mulher foi detida e pode ser acusada ao abrigo da legislação que proíbe atos públicos que visam "desacreditar a utilização das forças armadas da Rússia".

A OVD-Info publicou ainda um vídeo onde Marina Ovsyannikova diz que o pai é ucraniano e a mãe é russa e não vê os países como inimigos.

"Infelizmente, nos últimos anos trabalhei no Channel One, a fazer propaganda ao Kremlin e agora tenho muita vergonha", disse. "Tenho vergonha de ter permitido que se dissessem mentiras a partir do ecrã da televisão. Tenho vergonha de ter permitido que o povo russo fosse 'zumbificado'", acrescentou.

"Em 2014, ficámos em silêncio quando tudo isto estava apenas a começar", atirou, referindo-se à tomada da Crimeia por Moscovo.

"Não fomos a protestos quando o Kremlin envenenou Navalny. Apenas observámos silenciosamente este regime anti-humano. E agora o mundo inteiro afastou-se de nós."

A Rússia bloqueou plataformas como o Facebook, Twitter e Instagram, todas elas amplamente utilizadas para fazer declarações políticas.

Um vídeo do incidente espalhou-se rapidamente pelas redes sociais, com muitos utilizadores a prestarem homenagem à "coragem extraordinária" da mulher, num cenário de uma forte repressão contra a oposição.

Desde o início da invasão da Ucrânia, a 24 de fevereiro, milhares de manifestantes foram detidos na Rússia.

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