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O Partido Popular deverá ganhar distanciado as eleições de 4 de maio na região de Madrid, com o dobro de votos do Partido Socialista (PSOE), mas vai continuar a precisar da ajuda do Vox, de extrema-direita, para governar.
Todas as sondagens indicam que o Partido Popular (PP, de direita) deverá ter 41% dos votos com quase o dobro do PSOE, de esquerda, 21%, vindo a seguir o Mais Madrid (regional de extrema-esquerda) 16%, Vox 9%, Unidas Podemos (extrema-esquerda) 7% e Cidadãos (direita-liberal) 4%.
A candidata do PP, Isabel Díaz Ayuso, que é presidente da Comunidade de Madrid desde 2019, quando conseguiu formar um executivo regional coligada com o Cidadãos e o apoio parlamentar do Vox, quase consegue duplicar a sua votação, mas vai continuar a depender da extrema-direita para se manter no lugar.
O professor de Comunicação e Política Internacional na Universidade Europeia de Madrid José Maria Peredo Pombo é da opinião que uma das razões que explicam a popularidade de Díaz Ayuso tem a ver como a "forma acertada" como esta fez a gestão da pandemia de Covid-19, que tem tido o apoio de vários setores da cidade.
A candidata do PP manteve a atividade económica aberta desde o final da primeira vaga da pandemia, há um ano, principalmente a restauração e similares, mas também o pequeno comércio de rua e o setor cultural, ao contrário do que aconteceu noutras regiões de Espanha.
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Esta política leva a que Madrid seja uma das comunidades espanholas com mais casos e mortes devido à covid-19, uma matéria que parece não ter sido muito valorizada pelos eleitores.
O candidato do PSOE, Ángel Gabilondo, perde, segundo as sondagens, a maioria relativa que tinha conseguido nas eleições anteriores e vê-se ameaçado pela subida do Mais Madrid, uma formação que ganha peso regional, depois de ter nascido de uma cisão com o partido mais radical Unidas Podemos.
O Cidadãos, que nas eleições anteriores conseguiu quase 20% de votos (terceiro lugar), vê agora os seus apoiantes transferirem-se quase na sua totalidade para o PP e tenta desesperadamente chegar aos 5% da votação, limite abaixo do qual um partido fica sem representantes na assembleia regional.
Acontece o mesmo com o Unidas Podemos, que tem como candidato Pablo Iglesias, que abandonou a vice-presidência do Governo nacional para tentar salvar o partido de desaparecer na região mais rica de Espanha, com os eleitores a serem atraídos pelas outras duas formações de esquerda (PSOE e Mais Madrid).
O professor de Meios de Comunicação e Política da Universidade de Navarra Carlos Barrera considera que nestas eleições Cidadãos e Unidas Podemos "jogam a sua sobrevivência como projetos políticos".
Estas duas formações apareceram declarando como seu objetivo lutar contra a corrupção e os maus hábitos dos velhos partidos, PSOE e PP, que se intercalaram na chefia do Governo espanhol desde o fim da ditadura de Franco, em 1978.
Mas estes "novos" partidos parecem ter caído na mesma forma de fazer política dos "velhos" tendo vindo a perder votos, depois da subida que tiveram inicialmente.
"Penso que as pessoas se cansaram destes partidos, que tudo indica podem ser os grandes perdedores", assim como o PSOE, nas eleições de 04 de maio, disse José Maria Peredo Pombo.
A campanha eleitoral tem sido marcada por uma grande tensão entre os candidatos e sobretudo com reações cruzadas ao envio de cartas anónimas com ameaças acompanhadas por balas a políticos espanhóis, com a esquerda, mal posicionada nas sondagens, a colocar a luta contra a extrema-direita no centro dos seus ataques.
A candidata Isabel Díaz Ayuso (PP), lançou logo no início da campanha o desafio de os madrilenos escolherem entre "socialismo ou liberdade".
Por seu lado, o candidato Pablo Iglesias (Unidas Podemos) respondeu que Ayuso estava enganada sobre o significado da palavra e que "liberdade é que as pessoas possam pagar a renda" da sua casa.
A presidente da Comunidade de Madrid dissolveu o parlamento regional em 10 de março último para convocar eleições antecipadas, com receio que o partido com quem esteve coligada até agora, o Cidadãos, se juntasse ao PSOE na apresentação de uma moção de censura ao executivo da região.
A decisão foi tomada depois da apresentação de uma moção de censura do PSOE e do Cidadãos na comunidade de Múrcia (sudeste), onde este segundo partido também era o parceiro minoritário do PP no governo de coligação regional.
Desde que, há 25 anos, está nas mãos do PP, Madrid tornou-se a região mais rica de Espanha e também a que apresenta as maiores desigualdades entre cidadãos.
Nesta comunidade autónoma, as empresas gozam de um tratamento fiscal menos agressivo, estratégia que muitas outras das 17 comunidades autónomas espanholas têm denunciado, algumas delas também governadas pelo PP.
Em duas décadas e meia, o PP erigiu na comunidade o seu principal bastião de poder regional, que foi utilizado, quando necessário, como centro de oposição a vários executivos nacionais socialistas.
A região também é o laboratório das políticas neoliberais da direita nos setores da Saúde e da Educação, onde as comunidades autónomas têm autonomia.
Alvo de todos os ataques da direita, o primeiro-ministro socialista espanhol, Pedro Sánchez, tem participado pessoalmente na campanha para as eleições regionais, uma consulta com fortes implicações nacionais, ao lado do candidato pouco carismático Angel Gabilondo.
Sánchez tenta mobilizar a esquerda e brandiu a "ameaça" do Vox, cujo apoio à candidata do PP pode ser imprescindível no caso mais provável de Isabel Diaz Ayuso não conseguir uma maioria absoluta.
"Não se trata de Madrid, mas sim da nossa democracia", insistiu Sánchez num comício, denunciando a "linha vermelha" atravessada pelo Vox, que duvidou da existência das cartas com ameaça de morte e contendo balas recebidas por personalidades de esquerda.
De acordo com os analistas, o resultado das eleições em Madrid não vai influenciar de forma decisiva a condução da política nacional, não ficando a coligação minoritária do PSOE em perigo de cair.