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A portuguesa Lídia Pereira recandidata-se este ano à liderança da maior estrutura partidária juvenil da Europa, o YEPP, a sigla inglesa de Juventude Popular Europeia. Sendo "candidata única", espera ver "renovado o voto de confiança", da federação de juventudes partidárias que reúne liberais conservadores, democratas cristãos, e pro-europeístas.
É uma millennial. Tem 29 anos, e espera que as futuras gerações europeias possam viver "num continente moderno", preparado em matéria "ambiental", e que "ofereça de facto oportunidades", especialmente para os "mais jovens".
Diz que nunca planeou um percurso político. Mas, em 2019, eleita nas listas do PSD, Lídia Pereira tornou-se a primeira presidente do YEPP, a ocupar o cargo de eurodeputada.
Ouça a entrevista.
Quando falámos, há três anos, ainda não era eurodeputada, tinha-me dito que não planeou o seu percurso político para vir a exercer cargos de poder, mas que estava aberta e disponível para os desafios que lhe fossem colocados. Ser eurodeputada é um desafio à altura?
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É um desafio que permite dar um bocadinho daquilo que eu fui recebendo ao longo da minha formação académica, assim como depois também do meu percurso profissional. Portanto, é um desafio que me preenche e que tem posto à prova todos os dias da minha vida, desde que me tornei eurodeputada. E, com grande empenho e dedicação, tem sido esse o mote que me tem trazido até aqui.
A sua vida mudou muito desde então para cá?
Sim. Mudou radicalmente. Eu estava a trabalhar no setor privado. E, portanto, ausente dos holofotes mediáticos, numa atividade que não tem o escrutínio que a política tem. Portanto foi uma mudança significativa.
Em que medida é que para o YEPP (que é a sigla inglesa para Juventude Popular Europeia), ter uma presidente que é eurodeputada contribui para aproximar os jovens da política? Sente que ajudou em alguma medida a fazer essa aproximação?
O YEPP - tal como o PPE - é uma federação de organizações de partidos políticos europeus, que se revêem no Europeísmo, [e] convictamente na defesa dos valores europeus. A grande vantagem que se tem verificado é o facto de nós conseguirmos, através daquilo que são os nossos instrumentos de política, através das resoluções que vamos aprovando, que nós podemos depois influenciar o trabalho dos vários relatórios que estão em discussão no Parlamento Europeu. E, portanto há uma forma eficaz de darmos voz àquilo que são as nossas propostas que discutimos e debatemos internamente, e que depois ganham aqui um espaço maior, utilizando a plataforma que o Parlamento Europeu nos proporciona. E, desta feita, creio que assim também estamos mais próximos dos jovens, estamos mais próximos - não só das nossas organizações membros -, mas também através da forma como nós fazemos política: a colocar temas na agenda.
Quais são os temas prioritários que têm identificado?
Uma delas tem sido sempre o ambiente. Não só na Comissão do Ambiente, mas também dentro do próprio grupo político do PPE. E, portanto, vamos marcando a agenda. Nós, ainda muito antes de imaginarmos que teríamos uma pandemia, apresentámos outra moção, também em sede de congresso, e que entretanto levámos mais longe, que se transformou numa campanha sobre a questão das vacinas. O YEPP identificou as questões como a desinformação e as campanhas anti-vacinas na Europa como uma fonte de preocupação. E, portanto, tínhamos a resposta. E mais uma última nota tem sido o nosso compromisso, por exemplo, com a questão da Bielorrússia. O YEPP lançou uma campanha em que convocou todos os jovens parlamentares europeus, de parlamentos nacionais e regionais a assinarem uma declaração, em defesa de eleições livres na Bielorrússia, e da libertação de todos os presos políticos. E, portanto, também aqui conseguimos marcar novamente a agenda. Contribuímos para que o prémio Sakharov fosse entregue à oposição bielorrussa. E creio que são conquistas que nos orgulham e que no fundo vão ao encontro também daquilo que são as expectativas de quem para nós olha e se revê na política que o YEEP vai desenvolvendo.
O Parlamento retomou recentemente as sessões em Estrasburgo. Sei que a decisão do presidente Sassoli não é apoiada por todos. Está entre os críticos ou entre os defensores do regresso às sessões plenárias de Estrasburgo?
A mim parece-me que não se teria perdido nada se tivéssemos esperado que a vacinação tivesse aumentado mais do que aquela que se verificou quando nós fomos para Estrasburgo. Por uma questão de segurança. Penso que gradualmente teríamos ganho, se tivéssemos eventualmente esperado mais um mês. Mas, também não nego que houve assim um certo otimismo, por nós termos lá estado. E, não esquecendo, quando vemos que algumas atividades que começam a retomar a sua normalidade - e referindo-me especificamente aos jogos de futebol -, creio que na política também temos que liderar pelo exemplo, portanto também temos que cumprir com aquilo que os tratados prevêem.
Quando foi eleita, em 2019, a Lídia Pereira contribuiu para baixar a média de idades no hemiciclo. É uma millennial. Como é que gostaria que fosse a União Europeia para a chamada Next Generation EU, para as gerações que vão viver com o impacto das decisões que são hoje tomadas?
Tem que ser um continente moderno, capacitado, digitalizado, com uma grande preocupação ambiental. Um continente que oferece de facto oportunidades, e que vai lidar com esta recuperação económica de forma a não deixar ninguém para trás. E, quando digo ninguém para trás, em particular, os mais vulneráveis tradicionalmente. Estou manifestamente preocupada. E o meu trabalho, e o meu compromisso, é também garantir que, de facto, vamos garantir que as próximas gerações vão poder beneficiar das mesmas condições, que as gerações anteriores. Nós vemos, um bocadinho por toda a Europa, alguma dificuldade na geração milénio, ou é a geração abaixo, em poder realizar-se, em poder concretizar os seus sonhos. Seja do ponto de vista profissional ou até mesmo pessoal. E, portanto, há muitas decisões que começam a ficar adiadas durante muito tempo. E a expectativa, - que eu acho que é uma expectativa frustrante -, de podermos vir viver pior, não é a perspetiva aspiracional. E, portanto, tem que haver também esse compromisso da parte dos nossos... ou dos representantes - que eu também sou representante -, com essa realidade, e tentarmos, de facto, libertar-nos de uma certa resignação, que parece que se apoderou. E, [é] uma resignação que pode ter consequências depois a médio prazo. Por exemplo, com a escalada de populismos.
Este ano volta a candidatar-se à liderança da Juventude Popular Europeia. Como é que a Economista portuguesa, Licenciada na Universidade de Coimbra, Mestre em Economia Europeia pelo Colégio da Europa de Bruges, eurodeputada, e actual presidente da da Juventude Popular Europeia espera convencer a maior estrutura política juvenil na Europa, a votar novamente em si?
Recandidato-me com uma esperança renovada, assente em alguns eixos: um deles é a questão da recuperação económica, da economia, da modernização da economia europeia. Outro tem que ver com as relações transatlânticas. Este ano abriu uma nova janela de oportunidade para fomentarmos, mais ainda, as relações com os Estados Unidos da América, que ficaram aqui de certa forma surpresas, nos últimos quatro anos, mas que me parece ser fundamental, no quadro de uma geopolítica bastante alterada, e que a pandemia veio aqui também, de certa forma, acentuar. E, depois aqui outros temas, que têm que ver com a Defesa das Democracias Liberais. Uma democracia nunca pode ser iliberal. Temos que ser claros, no espaço em que vivemos, - na União Europeia -, somos defensores de democracias liberais. Foi isso que nos trouxe para a família europeia. E, a União Europeia ajudou na consolidação de vários processos democráticos, inclusivamente o nosso, o português. Portanto, nós não podemos ter medo de questionarmos que o caminho passará sempre pela liberdade. E, portanto, nesse aspecto, o YEPP também está comprometido - ou, pelo menos, eu estarei comprometida com essa agenda. Evidentemente gerindo todos os equilíbrios. Uma das minhas grandes preocupações é também esta divisão entre o leste e o Ocidente, mais em matéria de valores, que me parece mais acentuada do que a típica divisão norte sul, em matérias económicas. E, portanto, temos que arranjar formas aqui de reconciliação de redefinição, se for necessário, e da continuação da construção de pontes, porque é sobre elas que nós conseguimos determinados entendimentos, e portanto esse é também um dos meus grandes objetivos.