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Mariano Rajoy do Partido Popular (PP) e Felipe González do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), dialogaram longamente hoje, durante cerca de hora e meia, no fórum de La Toja na Galiza. A conversa fluiu amistosa e divertida, e esteve debaixo de todos os holofotes da imprensa.
Os dois veteranos, apesar de opositores, coincidiram quase sempre nas suas posições.
"O que me dá liberdade querido Mariano, é que digo o que penso. É perigoso esse exercício no tempo que vivemos, mas limita-me pensar o que digo, porque ainda tenho que exercer essa liberdade de pensar com responsabilidade", afirmou González, continuando: "Desde esse parâmetro estou sempre disposto a abrir-me a um diálogo que com Mariano Rajoy já começa a transformar-se na conversa que tinha Garcia Marquez com Álvaro Mutis: "Iniciamos uma conversa e já dura há 40 anos".
E foi a propósito de diálogos, Rajoy defendeu: "Os acordos são necessários e são sinónimo de civilização. Fazem falta alguns acordos em alguns temas fundamentais que estamos a viver nos dias de hoje."
Ouça a reportagem da TSF em La Toja.
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"Se estivermos atentos aos grandes assuntos que se supõe que, neste momento, importam aos espanhóis, o entendimento é zero", declarou, referindo: "Na luta contra a pandemia não houve nenhum tipo de entendimento, exceto muito ao princípio com a aprovação dos estados de alarme e depois tudo foi debate e discussão". E continuou: "No tema da Catalunha é evidente que não houve nenhum tipo de entendimento e depois temos a renovação dos órgãos constitucionais, onde também não há entendimento. E também não o há num tema que considero de maior importância que é o debate sobre os fundos europeus".
Ao segundo dia do fórum La Toja, o termo multilateralismo, que tem sido transversal a todas as conferências do evento, voltou a ser chamado à liça. No dia anterior, o Rei Filipe de Espanha entregou a Angel Gurría, ex-secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) o prémio "Fórum La Toja-Vinculo Atlântico", parabenizando-o pelo "trabalho incansável pelo multilateralismo, tratando de contribuir para o consenso na agenda global". E Felipe González também destacou a importância da cooperação entre nações como resposta a desafios globais, mas "com elementos que não choquem com o multilateralismo, que é organizar-se dentro de um regionalismo aberto, que seria o papel da América Latina ou de uma região tão integrada como o espaço público partilhado como a Europa".
O encontro de Rajoy e González, foi, de resto, uma viagem pelas questões políticas mais marcantes da atualidade. Desde as eleições na Alemanha e polarização da política partidária, àquilo que o ex-presidente do PSOE designou de "novos inquisidores" e de "achincalhamento das liberdades". As situações no Afeganistão, China e EUA, a solidariedade "em falta" com a América Latina, e a recuperação económica pós-pandemia, deram azo a mais conversa em que convergiram nas opiniões.
"Este é o fórum da moderação", disse Rajoy. E González, completou: "A moderação é a a virtude dos fortes. Os fracos são os que gritam e os que se querem impor".
A situação no Afeganistão e o seu impacto na ordem global são o último tema de hoje no fórum La Toja numa conferência com o politólogo português, Bruno Maçães, o ex-ministro dos Assuntos Exteriores de Israel, Shlomo Ben Ami, e Leon Panetta, ex-secretario da Defesa dos EUA e antigo diretor da CIA.