- Comentar
A responsável das Nações Unidas pela pasta do Clima defende que o acordo alcançado em Glasgow é um grande passo em frente, e argumenta que a inclusão do carvão no texto final é por si só muito significativo.
Patricia Espinosa diz-se, por isso, satisfeita com os compromissos estabelecidos. Em entrevista à BBC, advogou que o facto de o texto incluir uma referência ao carvão é um enorme passo em frente. A responsável da ONU considera que o fim do uso dos combustíveis fosseis é uma questão complexa e que precisa de ser tratada com equilíbrio. "Temos de estar muito conscientes de que há milhões e milhões de pessoas que dependem da indústria dos combustíveis fósseis. Também há muita gente, sobretudo os mais pobres e vulneráveis, que ainda precisam do carvão como fonte de energia, portanto o tema é muito difícil."
"Por um lado, vemos com clareza que o carvão é uma grande fonte de emissões e temos de nos livrar dele. Por outro, temos de equilibrar as consequências sociais para tantas pessoas em todo o mundo, especialmente nos países mais pobres."
Patricia Espinosa admite que a questão do carvão foi atenuada no acordo mas não deixou de constituir um avanço.
Ouça as declarações de Patricia Espinosa.
Subscrever newsletter
Subscreva a nossa newsletter e tenha as notícias no seu e-mail todos os dias
Já o presidente da cimeira do clima de Glasgow (COP26), Alok Sharma, rejeitou que as mudanças de última hora da China e Índia sobre o fim do carvão signifiquem "um fracasso", assegurando que o acordo é "um feito histórico".
Numa entrevista ao programa de Andrew Marr na BBC, citada pela agência Efe, o responsável britânico disse que o pacto assinado no sábado permite "manter ao alcance" o objetivo planeado no Acordo de Paris de 2015 de limitar a 1,5 graus Celsius o aumento da temperatura do planeta neste século.
Alok Sharma também recordou que se completou o normativo para aplicar plenamente o tratado parisiense e se conseguiu "mais dinheiro para os países vulneráveis às alterações climáticas".
"Creio que podemos afirmar que estamos a caminho de erradicar o carvão da história", manteve, para sublinhar que é a primeira vez que um documento de uma negociação climática inclui referências a hidrocarbonetos.
Para Alok Sharma, "a China e a Índia são os que vão ter de se explicar aos países mais vulneráveis os efeitos das alterações climáticas, e já se viu a reação desses países à mudança de linguagem proposta".
Numa intervenção de última hora, precisamente quando o Pacto de Glasgow, resultado de duas semanas de intensas negociações na cidade escocesa, ia ser aprovado, a Índia, apoiada pela China, forçou uma mudança no artigo 36, que pedia para se "acelerar os esforços para a eliminação do carvão sem processos de captura de carbono e dos subsídios ineficientes ao combustível fóssil".
Com a mudança proposta, aprovada sob protesto por algumas delegações presentes, a "eliminação" foi substituída por uma "redução progressiva".
Quando o acordo foi aprovado, um dia depois do previsto para o fecho da cimeira que começou no dia 31 de outubro, Alok Sharma emocionou-se, pedindo desculpa pela manobra de última hora.
"Conseguimos muito e, a nível pessoal, dediquei muito tempo nos últimos dois anos... e, claro, só dormi umas seis horas nas 72 anteriores. Foi um momento emotivo", disse à BBC.