Sobrevivente sírio feliz e aliviado pela condenação de um ex-militar

Omar Alshogre foi preso pela primeira vez aos 15 anos por ter participado numa manifestação pacífica. Dez anos depois, não esquece o que passou e ficou feliz com a decisão do tribunal alemão.

Omar Alshogre acompanhou todo o processo, que decorreu num tribunal da cidade Koblenz e admite que o veredicto não podia ter corrido melhor.

O ex-militar foi condenado por crimes contra a humanidade. Os juízes não tiveram dúvidas de que ele foi o responsável pela tortura de cerca de 4 mil pessoas, por pelo menos 30 assassinatos extrajudiciais e por diversos crimes sexuais. Ele foi condenado a prisão perpétua, sem possibilidade de libertação antecipada.

Ouvido pela TSF, o jovem que sobreviveu às cadeias do regime de Bashar al-Assad, aplaude a decisão e diz que começou a ser feita justiça. "Senti-me muito aliviado, espantado, feliz e satisfeito porque, pelo menos uma das pessoas responsáveis pela morte e tortura de milhares de sírios, não vai poder fazer isso outra vez. Saber que a porta da justiça se abriu foi também muito importante. Vou poder dizer à minha mãe, aos meus amigos e ao povo sírio que a pessoa responsável pelo sofrimento de tantas famílias está presa," explicou Omar.

O jovem de 25 anos, que vive agora na segurança do exílio na Suécia, acredita que um dia vai ver o presidente sírio no banco dos réus. Defende que este foi o primeiro passo, um passo importante para o povo porque cria esperança sobre o que se pode seguir: "Acredito que poderemos julgar o presidente pelos crimes que praticou e deixou acontecer."

Omar não esteve na cadeia dirigida pelo antigo militar, agora condenado, mas explica que o ramo dos serviços secretos em Damasco é semelhante aquele responsável pelos locais onde passou muito tempo. A tortura sistemática era a mesma, os guardas torturavam os detidos para conseguirem informações ou confissões forçadas. As condições de vida desumanas eram também iguais.

O jovem sírio lamenta que a cadeia de Al-Khateeb, que o antigo militar dirigia, e a de Sednaya, onde ele próprio esteve, continuem abertas e sejam a razão pela qual milhares de sírios e famílias continuem a sofrer. Para ele, só esse facto é um crime contra a humanidade.

Quanto ao facto de a Alemanha estar a dar passos importantes em defesa dos povos de diversas partes do mundo, Omar Alshogre diz que o país deve ser um modelo para outros estados que têm a capacidade de fazer justiça.

A Alemanha, numa decisão inédita, condenou no final do ano passado, um cidadão iraquiano que integrou o estado islâmico. Ele foi condenado a prisão perpétua por genocídio da minoria yazidi, crimes contra a humanidade, crimes de guerra e tráfico humano. Agora, pela primeira vez, julgou e condenou um alto responsável do regime de Bashar al-Assad.

Omar elogia a coragem do país e agradece que os alemães tenham assumido a responsabilidade de garantir que a justiça seja cumprida. O jovem acrescenta que o povo sírio só pode estar grato também pelo facto de a Alemanha ter recebido milhares de refugiados sírios.

A primeira vez que a TSF falou com Omar Alshogree foi dois anos depois de ele ter conseguido escapar da cadeia. Quando fugiu tinha 18 anos e depois de anos de tortura e fome pesava 35 quilos. Em 2017 tinha chegado há pouco tempo a Estocolmo, falava mal inglês e estava claramente traumatizado. Tinha ainda dificuldade em descrever aquilo por que tinha passado. Desde aí Omar tornou-se um ativista conhecido em todo o mundo, tem viajado por vários países e ainda, no final do ano passado, esteve na ONU a acusar diretamente os embaixadores da Rússia e da China por ajudarem o regime de Bashar al-Assad e inviabilizarem, no conselho de segurança, qualquer moção que ajude o povo sírio.

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