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Mais de cem pessoas entre padres, trabalhadores a tempo inteiro ou voluntários na Igreja Católica na Alemanha, anunciaram, esta segunda-feira, a sua condição LGBTI. O grupo de 125 pessoas apela a uma atitude mais liberal relativamente à homossexualidade no seio da igreja alemã, exigindo o fim da "discriminação e exclusão". Este anúncio coincide com os relatos de abusos sexuais infantis generalizados por parte de clérigos católicos no país, incluindo alegações de casos em que o antigo papa Bento XVI não agiu.
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"Não quero continuar a esconder a minha identidade sexual", disse, em declarações citadas pela AFP, Uwe Grau, um padre da diocese de Rottenburg-Stuttgart. "Somos parte da igreja", acrescentou Raphaela Soden, que trabalha no cuidado pastoral de jovens adultos e se identifica como não-binária.
O grupo apela ao "livre acesso a todas as vocações pastorais" e ao fim de "um sistema de ocultação, padrões duplos e desonestidade" em torno das questões LGBTI. "Entrar numa relação ou casamento não heterossexual nunca deve ser considerado uma quebra de lealdade e, consequentemente, um obstáculo ao emprego ou uma razão para o despedimento", afirmam os signatários.
A questão da homossexualidade tem causado uma grande divisão na Igreja Católica. O próprio papa Francisco é ambivalente em relação ao assunto, tendo suscitado controvérsia com a sua atitude relativamente liberal no que toca à orientação sexual, algo que está em desacordo com as crenças de muitos conservadores na igreja. "Se uma pessoa é homossexual e procura o Senhor com boa vontade, quem sou eu para o julgar?", disse Francisco, pouco depois de se ter tornado papa em 2013.

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No entanto, o papa é um firme apologista do ensinamento católico de que o casamento é a união entre um homem e uma mulher a fim de procriar, criticando repetidamente a "teoria do género" como um "projeto ideológico" que "nega a diferença natural entre um homem e uma mulher". No ano passado, o Vaticano reafirmou que a homossexualidade era "um pecado" e confirmou que os homossexuais eram incapazes de receber o sacramento do casamento.
Na Alemanha, os apelos a uma atitude mais liberal em relação à homossexualidade formaram um pilar central dos apelos a reformas na igreja. Os católicos continuam a ser a maior comunidade religiosa da Alemanha, com 2,2 milhões de membros.
A crise na igreja tem sido acentuada devido a uma série de relatórios que expuseram o abuso generalizado de crianças por parte de clérigos nos últimos anos.
Na semana passada, um relatório sobre alegados abusos sexuais no arcebispado alemão de Munique acusou Bento XVI, então arcebispo daquela arquidiocese e atual papa emérito, de inércia em pelo menos quatro casos conhecidos que ocorreram sob a sua hierarquia. Já esta segunda-feira, o papa emérito Bento XVI admitiu ter fornecido informações erradas ao inquérito. "Lamenta muito esse erro e pede desculpa", referiu o secretário pessoal de Bento XVI, Georg Ganswein.

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