Stoltenberg enfrentou a Rússia, Trump e o financiamento, e deixa a NATO "fortalecida"

Um mês depois do atual secretário-geral da NATO ter feito saber que vai sair da Aliança Atlântica no final de setembro, não renovando o atual mandato, a TSF conversou com uma especialista em relações internacionais e um antigo embaixador, que representou Portugal na organização. A opinião foi unânime: a NATO sai reforçada depois da saída do norueguês.

Quando tomou posse, a 1 de outubro de 2014, Jens Stoltenberg, o ex-primeiro ministro da Noruega, já sabia o maior desafio que talvez teria pela frente: "A Rússia mantém a sua habilidade de desestabilizar a Ucrânia". Meses antes a Rússia tinha invadido a península da Crimeia, que até então pertencia à Ucrânia, e despertado a atenção internacional para um possível conflito mais alargado a leste.

"A resposta que se deu à Crimeia, embora na altura tenha sido entendida como tímida, foi um ponto de viragem para as relações do Ocidente com a Federação Russa e marcaram também uma grande divergência no entendimento até então de que a Rússia era um parceiro estratégico", nota Ana Isabel Xavier, professora de relações internacionais.

Para a especialista, o principal responsável por essa viragem foi o atual líder da NATO. Desde então foram-se somando desafios, desde o "pós-Crimeia" passando "pela administração de Donald Trump" até à "pandemia de Covid-19" e mais recentemente "a agressão russa à Ucrânia": "Soltenberg ficará sempre com uma imagem muito positiva e construtiva e como alguém que soube adaptar muito bem a NATO a estes desafios que foram imensos ao longo destes anos".

Quando sair, no final de outubro, Stoltenberg deixa a aliança ao fim de nove anos de liderança. António Martins da Cruz, antigo embaixador de Portugal na organização entre 1995 e 1999, lembra que o último ano foi o mais marcante, já que "a NATO passou da morte cerebral, como lhe anunciava o presidente Emmanuel Macron, a ser outra vez o principal instrumento de segurança e defesa do mundo ocidental e da Europa".

Com uma guerra na Europa, é altura certa para mudar de líder?

Martins da Cruz recorda que em 1998, quando a NATO tinha "empenhadas na Bósnia cerca de 35 mil soldados", mudou-se o "chefe do Comité Militar, um general alemão, a quem competia a última análise das operações que estavam a decorrer".

De resto, a história diz-nos que a NATO já mudou várias vezes de secretário-geral quando lidava com conflitos. Ana Isabel Xavier dá o exemplo da guerra do Afeganistão e argumenta que é "bastante subjetivo" mudar de líder agora. A especialista sustenta que "é a melhor altura" para que a aliança atlântica comece um novo ciclo virado para os novos desafios que vai ter pela frente.

"Soltenberg já mostra algum cansaço da sua imagem, daquilo que foi esta década. Por isso, é muito importante que haja um refresco na liderança da NATO, que precisa de estar preparada para uma nova Federação Russa e um novo conceito estratégico de defesa", acrescenta.

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