Último avião militar norte-americano abandona Cabul

Confirmação da retirada dos Estados Unidos do Afeganistão põe fim a 20 anos de guerra.

O último avião militar dos Estados Unidos deixou esta segunda-feira o aeroporto de Cabul, anunciou o Pentágono.

"O último avião C-17 saiu do aeroporto de Cabul a 30 de agosto", às 20h29 (hora de Lisboa), afirmou o general Kenneth McKenzie, líder do comando central dos EUA, em conferência de imprensa.

O ministro português dos Negócios Estrangeiros assinalou que Washington cumpriu aquilo que tinha anunciado. Augusto Santos Silva espera agora que os taliban também honrem a promessa de continuar a permitir o acesso ao aeroporto.

"A questão mais importante que esta saída coloca é as condições de operação do aeroporto de Cabul para garantir a saída daqueles afegãos que queiram sair do Afeganistão. Há um compromisso verbal do lado dos taliban de que não se irão opor à saída de cidadãos afegãos que tenham autorização para se deslocar para outros países e é necessário que essa declaração seja agora cumprida", afirmou Santos Silva à SIC Notícias.

Depois da confirmação da retirada dos últimos soldados norte-americanos do Afeganistão, ao fim de 20 anos de presença dos Estados Unidos, foram ouvidos tiros em Cabul, durante a madrugada na capital afegã, controlada pelos taliban.

Jornalistas da agência de notícias AFP confirmaram os tiros a partir de vários postos de controlo dos taliban, bem como festejos de combatentes em zonas de segurança.

Uma fonte oficial do governo norte-americano estimou que nesta altura haverá cerca de 250 cidadãos dos Estados Unidos por retirar de Cabul. O Pentágono admitiu a incapacidade de retirar do Afeganistão todos os civis estrangeiros e afegãos que pretendiam abandonar o país.

"Não podíamos retirar todos que queríamos", disse o general Kenneth McKenzie, adiantando que a retirada de afegãos e estrangeiros foi concluída "cerca de 12 horas" antes da retirada dos últimos militares.

Segundo o general, as forças norte-americanas estiveram disponíveis para retirar qualquer pessoa que alcançasse o aeroporto "até ao último minuto".

O embaixador e um general foram os últimos norte-americanos a deixar o Afeganistão. "A bordo do último avião estava o general Chris Donahue. Estava acompanhado pelo embaixador Ross Wilson", acrescentou McKenzie.

Retirada dos Estados Unidos do Afeganistão significa o fim de 20 anos de guerra

Os Estados Unidos terminam assim a sua guerra mais longa com a retirada militar do Afeganistão, país que invadiram há 20 anos, logo após terem sofrido os ataques terroristas de 11 de setembro.

Os EUA deixam o Afeganistão de novo nas mãos dos taliban, cujo primeiro regime (1996-2001) tinham derrubado em dezembro de 2001, quando o grupo extremista se recusou a entregar o então líder da Al-Qaida, Osama bin Laden.

A Al-Qaida reivindicou os ataques de 11 de setembro de 2001, que provocaram quase 3.000 mortos em Nova Iorque, Washington e Pensilvânia.

A retirada das forças internacionais foi negociada com os taliban, em fevereiro de 2020, e ocorre 15 dias depois de o movimento rebelde ter conquistado Cabul, depondo o Presidente Ashraf Ghani.

A vitória dos taliban desencadeou uma operação das forças internacionais que permitiu retirar do país mais de 100.000 estrangeiros e afegãos a partir do aeroporto de Cabul.

Com a capital afegã controlada pelos taliban, a operação foi marcada pelo desespero de milhares de afegãos a querer fugir do país e por ataques do grupo extremista Estado Islâmico, incluindo um atentado bombista que matou cerca de 200 pessoas.

A intervenção dos EUA e dos seus aliados no Afeganistão começou em 07 de outubro de 2001, e contou com o apoio no terreno de forças afegãs que combatiam o regime extremista.

Apesar do derrube do governo dos taliban, os seus combatentes e elementos da Al-Qaida continuaram a enfrentar as forças afegãs e internacionais, sobretudo no sul do país.

Osama bin Laden, que tinha motivado a invasão, conseguiu escapar ao cerco de forças afegãs em dezembro de 2001, e refugiou-se no vizinho Paquistão.

O líder da Al-Qaida viria a ser morto no Paquistão quase 10 anos depois, em 01 maio de 2011, por militares norte-americanos.

A presença estrangeira no Afeganistão chegou a envolver um pico de 115.000 tropas de uma coligação de 38 países da NATO (sigla do nome inglês da Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Portugal participou com 4.500 militares desde 2002 até maio deste ano, e registou duas baixas.

Segundo dados da ONU citados pela agência France-Presse, mais de 38.000 civis foram mortos no Afeganistão desde 2009, quando a missão das Nações Unidas começou a registar as baixas, até 2020.

Globalmente, segundo dados citados pela Associated Press, a guerra no Afeganistão terá causado mais de 170.000 mortos, incluindo 47.000 civis afegãos, 66.000 membros das forças de segurança afegãs, e 51.000 combatentes dos taliban e de outros grupos.

As forças internacionais registaram mais de 3.500 mortos, das quais mais de 2.300 norte-americanos.

Os 20 anos de guerra provocaram também mais de 2,7 milhões de refugiados e mais de 3,4 milhões de deslocados internos, segundo a ONU, num país com 37 milhões de habitantes.

Notícia atualizada às 23h11

* com Lusa

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