Marcelo Rebelo de Sousa verá chegar o dia em que António Costa precisará de novo dos seus bons ofícios. Por agora, o Presidente limita-se a lançar avisos ao chefe do governo, a um ritmo diário, sobre os limites do poder em Democracia. O poder limitado que o próprio Chefe de Estado tem, preso ao que diz a Constituição e à vontade do povo, é, no entanto, um poder imenso. Este Natal, terá oportunidade de nos mostrar isso mais uma vez.
Na festa religiosa que celebra o nascimento do Messias, o Presidente católico terá a oportunidade de adiar, uma vez mais, a entrada em vigor da Lei da Eutanásia. Os deputados no Parlamento têm, é preciso dizê-lo, facilitado bastante a vida a Marcelo que encontrou evidentes lacunas quer na primeira versão, enviada para o Tribunal Constitucional, quer na segunda, sujeita a veto político.
A eutanásia é matéria que importa de sobremaneira a Marcelo Rebelo de Sousa. Bem sabemos que prometeu não se deixar confundir, no seu papel de Presidente, pela sua condição de católico, mas não é humanamente possível pedir a alguém que, em matéria tão importante como a existência de uma lei da eutanásia, passe a ser quem não é.
Não significa que o Presidente não veja na legislação aprovada no Parlamento novamente razões para pedir a verificação da sua constitucionalidade ou, tratando-se de outra lei, que não possa vetar politicamente por entender que continua a ser uma má lei.
Entre o nascimento de Cristo e a nova vida que todos desejamos no Ano Novo, aprovar uma nova lei sobre a morte medicamente assistida e pedir a Marcelo que a promulgue, quase parece uma pequena provocação ao Presidente e aos católicos mais fervorosos.
O caminho para o direito a morrer com dignidade segue dentro de momentos.