Há uma grande volatilidade na política à portuguesa. O horror ao vazio não deixa espaços por preencher e, se a alternativa é inexistente, o poder tem de fazer oposição a si próprio como única forma de se regenerar.
António Costa percebeu que a fragilidade da liderança do PSD, em processo de afirmação demasiado lento, é simultaneamente também uma fragilidade sua e uma força do seu governo. A fragilidade resulta do prejuízo causado à Democracia e a força de estar a jogar sozinho.
Acontece que a remodelação do discurso feita por António Costa, utilizando o título feliz da crónica de Ana Sá Lopes no jornal Público, foi sol de pouca dura e não deve chegar para ultrapassar a crise, porque a nódoa no lugar de ficar mais ténue vai ficando cada vez mais densa.
Vamos lá abandonar a conversa do governo de nove meses, porque pode servir para embelezar a narrativa contra o governo mas é uma inverdade, como gostam de dizer os políticos para apontar uma mentira. O governo tem sete anos e é isso que explica a desfaçatez com que tentam enganar toda a gente o tempo todo.
Escrevo esta crónica na quinta-feira à noite e no caderno das trapalhadas, a ficar sem espaço, anoto mais três casos que contribuem para a descredibilização do governo e provocam dano na Democracia.
Primeiro: Rita Marques, ex-secretária de Estado do Turismo, já não vai para a empresa para onde nunca deveria ter ido.
Segundo: o gabinete do primeiro-ministro perdeu um assessor por uma questão de lana-caprina, mas como gosta de dizer António Costa à justiça o que é da justiça e foi a justiça que sentenciou o ex-candidato autárquico socialista com um impedimento de exercer funções públicas por um período de dois anos e nove meses.
Terceiro: o namorado de uma secretária de Estado ganhou um emprego numa autarquia de que a governante tinha sido mandatária do vencedor das últimas autárquicas. O Ministério responde que deve ser a autarquia a responder por este caso.
Se o discurso muda, mas o comportamento é o mesmo, não esperam que a nódoa saia.